Ministro afirma ao GLOBO que presidente demostra respeito ao teto de gastos e que governo está disposto a enfrentar a grave situação fiscal, agravada pela pandemia
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ao GLOBO que o presidente Jair Bolsonaro se referia ao setor público ao afirmar que o Brasil está “quebrado”, em conversa com apoiadores nesta terça-feira. Guedes afirmou ainda que o presidente demonstrou, durante sua fala, a necessidade de respeito ao teto de gastos para controlar as despesas da União.
— Ele está se referindo, evidentemente, à situação do setor público, que está numa situação financeira difícil. Porque, depois dos excessos de gastos cometidos por governos anteriores, quando chegou o primeiro governo falando que vai cortar forte, foi fulminado pela pandemia. Nós estamos reconhecendo a dificuldade da situação, mas decididos a enfrentar. Nós vamos seguir com as reformas estruturais. Foi só isso — disse Guedes, afirmando que compartilha do mesmo diagnóstico do presidente de que a situação do setor público ficou difícil.
Guedes disse que o governo fez um forte sacrifício com corte de gastos no primeiro ano do governo, mas o plano foi inviabilizado pela pandemia, sendo necessário aumentar os gastos públicos. As despesas para conter os efeitos do vírus vão levar o governo a registrar um rombo de quase R$ 900 bilhões em 2020.
— É um governo que fez sacrifícios e de repente é fulminado por um raio, que foi essa doença, e gasta 10% do PIB. É tarefa de Sísifo, o cara que empurrava as pedras até lá em cima e os deuses derrubavam a pedra para o cara empurrar tudo outra vez. É evidente que o presidente está se referindo à situação do setor público — disse Guedes.
O ministro destacou que a economia está se recuperando dos impactos da Covid-19. Disse que os gastos voltarão a ser controlados em 2021 e que o plano do governo para economia segue o mesmo: as reformas estruturais como o Pacto Federativo e a reforma administrativa.
— A economia voltou em V, o setor privado está decolando de novo. Nós somos talvez a única economia que não perdeu emprego no setor formal. Na recessão de 2015 nós perdemos 1,5 milhão de empregos, na recessão de 2016 nós perdemos 1,3 milhão. E na recessão de 2020 nós perdemos zero empregos no mercado formal — afirmou o ministro.
Guedes disse que o governo encontrou as finanças públicas “muito fragilizadas” e adotou medidas para controlar os gastos, citando como exemplo a reforma da Previdência.
— Os gastos com a Previdência iam subir R$ 100 bilhões por ano. Nós cortamos esse aumento — afirmou.
De acordo com o Guedes, o governo também conseguiu reduzir em R$ 100 bilhões por ano os gastos com juros da dívida. E ainda reduziu a relação dívida/PIB no primeiro ano de governo, em 2019.
— No primeiro ano nós derrubamos a dívida/PIB. Nós desalavancamos os bancos públicos e desinvestimos R$ 250 bilhões de subsidiárias (de estatais). A gente caiu de 76,4% para 75,4% (da dívida/PIB). Foi uma queda expressiva — disse.
Em 2020, a dívida deve subir para próximo de 90% do PIB por conta dos gastos com a pandemia. Os dados oficiais serão divulgados no fim do mês.
Guedes também citou menos gastos com servidores públicos:
— Controlamos também o salário do funcionalismo. O primeiro governo que ficou três anos seguidos sem dar aumento de salário. Não demos em 2019, não demos em 2020 e garantimos que até dezembro de 2021 não vai ter aumento.
Fonte: O Globo