Por Armando de Melo Lisboa
“Meus heróis morreram …” (Cazuza).
Há muito que filósofos e cientistas investigam a natureza comum que todos os humanos partilhariam, a qual identificaria a espécie humana, diferenciando-nos das demais. Essa crença já gravitou em torno da “inteligência”, “fala”, “cultura” e muitas outras teses, inclusive a da “estupidez”…
Apesar desta procura por um universal comum, é a diversidade da nossa condição que se escancara em qualquer espelho que nos miramos, mesmo com toda a potência da globalização que a tudo formata década após década. Esta diversidade desponta plenamente nas inúmeras línguas faladas pela humanidade, expressão das quase infinitas variações e possibilidades de ser humano, talvez nossa maior riqueza.
Incrivelmente, apesar do vigor das forças universalistas e globalistas exponencializadas tecnologicamente, são pouquíssimas palavras que de fato são universais e reconhecidas em qualquer canto deste planeta, entre elas bambu, taxi e café.
Dentro deste raríssimo conjunto, brilha o nome dum cidadão que segue vivo, cuja sonoridade é mais conhecida que “papa” ou qualquer outro líder da humanidade do passado ou do presente: Pelé.
Edson hoje, 23 de outubro, completa 80 anos. Em qualquer outro país seria uma unanimidade e uma lenda viva. No Brasil há quem duvide…
Sem maiores comemorações, este pálido aniversário é mais revelador da fragilidade e pequenez de nosso país, especialmente do fracasso da empatia e imaginação de suas “cultas” elites, do que das idiossincrasias e limitações humanas deste cidadão. Não haver hoje uma grande confraternização e júbilo apenas reproduz a histórica antropofagia dum país que consome a si próprio. Sem mitos e histórias comuns, não se amálgama e aglutina nenhuma nação. Nossas irresolvidas dores e divisões reverberam de forma fratricida, bloqueando perceber que este negro brasileiro de humilde origem inspira bilhões em todo planeta a se superarem e serem humanos melhores, lhe conferindo uma grandeza ímpar e sem paralelos na humanidade. Parabéns, Pelé!
Armando de Melo Lisboa é professor da UFSC
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