Os dados mostram ainda que a maioria dos alunos de graduação a distância estuda na rede particular de ensino
Puxado pelo crescimento do ensino a distância, o número de alunos matriculados no ensino superior no Brasil aumentou de 2018 para 2019 —antes, portanto, da pandemia do novo coronavírus. Nos cursos presenciais, por outro lado, houve queda nas matrículas. É o que mostram os dados do Censo da Educação Superior de 2019, divulgados hoje pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), ligado ao Ministério da Educação.
No ano passado, o ensino superior brasileiro alcançou um total de 8,6 milhões de matrículas —um aumento de 1,8% em relação ao ano anterior. Esse crescimento só aconteceu pelo ensino superior a distância, que registrou alta histórica de 19% no número de matrículas entre 2018 e 2019. Foram 2,45 milhões de matrículas nessa modalidade de ensino no ano passado.
Já o número de matrículas nos cursos de graduação presenciais caiu para 6,15 milhões em 2019, uma diminuição de 3,8% em relação ao ano anterior. Foi a maior redução no número de matriculados em cursos superiores presenciais desde 2016, quando a modalidade começou a apresentar sinais de queda.
Os dados mostram ainda que a maioria dos alunos de graduação a distância estuda na rede particular de ensino. Em 2019, 93,6% dos matriculados nessa modalidade de ensino eram alunos de instituições privadas. Eles se concentram em 308 unidades da rede particular de ensino que oferecem cursos a distância.
Do total de matrículas em todo o ensino superior brasileiro, 75,8% são da rede privada. Dados do Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) de 2019, divulgados esta semana, mostram que mais de 40% dos cursos superiores de instituições particulares de ensino avaliados no exame têm desempenho considerado ruim. O Enade é uma avaliação do governo federal realizada por alunos que estão concluindo o ensino superior.
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, voltou a afirmar hoje que sua gestão tem como um de seus compromissos a melhoria da qualidade da educação superior. Ele havia dado declaração semelhante na ocasião da divulgação dos dados do Enade. Ribeiro falou brevemente no início de uma coletiva de imprensa e logo se retirou, não respondendo às perguntas dos jornalistas. “Nós criamos um foco e queremos caminhar no sentido da qualidade da educação”, afirmou. O ministro também fez referência direta à rede particular após afirmar que cabe ao MEC atuar na supervisão e regulação do ensino superior —o que, em relação à rede privada, permite ao ministério credenciar ou descredenciar instituições e cursos com base em resultados de avaliações.
“O estado brasileiro não seria capaz de cumprir sua missão constitucional se não fosse a parceria da rede privada”, disse. “76% da educação do ensino superior tem a ver com a rede privada. Por isso, nosso cuidado e respeito a toda iniciativa privada na educação, embora nós tenhamos também como missão constitucional a regulação de todo o ensino superior do Brasil”, afirmou.
Na última terça (20), na divulgação dos resultados do Enade, Ribeiro havia declarado que ele e sua equipe não têm receio de fazer “o que for preciso para suspender, credenciar ou descredenciar instituições [de ensino]”.
Mais alunos novos a distância
O cenário é semelhante no que diz respeito aos ingressantes (isto é, alunos novos) no ensino superior: o volume de ingressos teve aumento significativo na modalidade a distância, mas, na modalidade presencial, houve queda.
Nos cursos de graduação a distância, o número de ingressantes cresceu 15,9% entre 2018 e 2019, enquanto nos cursos presenciais essa taxa caiu 1,5%. A ocupação das vagas oferecidas, por outro lado, é maior na modalidade presencial do que nos cursos a distância. Em 2019, 44,2% das vagas ofertadas nos processos seletivos de vagas novas para cursos presenciais foram preenchidas, enquanto na educação a distância menos de um quinto foram.
O número de concluintes (que finalizam o curso) também é maior no ensino superior presencial do que na modalidade a distância. Em 2019, 934 mil estudantes concluíram uma graduação presencial, enquanto 316 mil terminaram um curso superior a distância.
Perfil docente
O censo mostra ainda os perfis mais frequentes de professor nas redes pública e particular de ensino superior. Em ambas, os docentes mais encontrados são homens. Nas instituições públicas de ensino, o típico docente possui doutorado, enquanto, na rede privada, o grau mais frequente de formação desses professores é o mestrado.
Segundo o levantamento, o docente mais encontrado na rede privada possui regime de trabalho em tempo parcial. Na rede pública, o regime de trabalho mais frequente dos professores é o de tempo integral. Com relação à idade, a diferença entre os docentes típicos de cada rede é pequena: enquanto nas instituições privadas a idade mais encontrada foi 39 anos, nas públicas foi 38.
Fonte: UOL