Ato virtual teve participação de entidades ligadas à educação e foi transmitida ao vivo pelo Facebook do Sindicato
A nova diretoria da Apufsc-Sindical tomou posse nesta sexta-feira (16), às 16h, em uma cerimônia virtual que foi transmitida ao vivo pelo Facebook.
O ato contou com a participação de representantes de outras entidades da educação, regionais e nacionais.
A professora Patrícia Della Méa Plentz, vice-presidente da Apufsc-Sindical na Gestão 2018/2020, fez a abertura da cerimônia e, em seu discurso, destacou o trabalho da diretoria em recuperar o espaço político do sindicato nos cenários local e nacional. “Não por acaso estão aqui conosco hoje representantes do Proifes Federação, do Andes Nacional e do Observatório do Conhecimento, as três grandes forças nacionais que lutam pelos direitos dos professores.”
Segundo Patrícia, os 24 meses de luta à frente do sindicato fizeram com que a entidade ganhasse confiança de professores que já não acreditavam no movimento sindical. “Foram mais de 500 novas filiações no período que estivemos à frente do sindicato. A aderência de tantos professores aumentou nossa responsabilidade diante da categoria.”
Por fim, ao deixar a diretoria, a professora lembrou que a nova gestão enfrentará anos difíceis, com crise econômica e má gestão do governo federal. “O aumento da precarização do nosso trabalho virá no mesmo compasso. Seremos levados ao limite da nossa capacidade de reação. E para isso, a Apufsc-Sindical precisa estar firme e forte protagonizando o caminho da proteção dos direitos dos professores.”
Humberto Martins, Coordenador Geral do Sindufsc, falou da necessidade de um sindicato de docentes aguerrido e que lute pela educação pública. “Nosso poder de reação frente à situação atual tende a aumentar e a disposição da luta é que fará que com que a gente consiga superar as dificuldades”, afirmou.
Victor Klauck, da coordenação geral do DCE, destacou a necessidade de entidades da educação ativas, que coloquem as necessidades de cada categoria nas pautas políticas e administrativas mas também apontem para a construção de uma universidade de qualidade.
Rafael Hag-maier, presidente da Associação de Professores da UDESC, a Aprudesc, mencionou o contexto nacional, em que o serviço público e a autonomia universitária estão ameaçados e reforçou a importância de uma unidade no trabalho das duas entidades.
Nesse contexto, o professor Armando de Melo Lisboa, ex-presidente Apufsc, lembrou que o sindicalismo do século XXI precisa de muita criatividade e de inovação para lidar com os problemas impostos à categoria.
A secretária Geral do ANDES -SN, Eblin Farage, destacou os desafios diante de um governo anticiência, fundamentalista, com aspectos negacionistas de uma produção de conhecimento que seja em prol da melhoria da sociedade.
Nilton Brandão, presidente do Proifes–Federação, ressaltou três lutas imediatas e necessárias: a nomeação de reitores que não expressam a vontade da comunidade universitária, garantir orçamento para as universidades, sem cortes, e a articulação contra a reforma administrativa, que vai precarizar o serviço público.
“O que estamos sofrendo não tem paralelo na história desse País, com as universidades sendo declardas como inimigas de um governo, que vem destruindo a máquina de proteção do Estado”, afirmou a professora Eleonora Ziller, presidente da Associação dos Docentes da UFRJ e representante do Observatório do Conhecimento, rede formada por Associações e Sindicatos de Docentes de universidades brasileiras, da qual a Apufsc faz parte.
A deputada Luciane Carminatti, presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, classificou a reforma administrativa como uma pá de cal nos direitos dos servidores públicos, e destacou essa como uma das lutas prioritárias dos profissionais da educação em todas as esferas.
O professor Roberto Salles, ex-reitor da Universidade Federal Fluminense, e coordenador do Grupo de Trabalho criado pelo presidente da Câmara dos Deputados para acompanhar e avaliar o sistema universitário brasileiro. Ele lembrou de universidades como as de Bolonha e Coimbra, duas das mais antigas do mundo, que sobreviveram às adversidades históricas e inclusive a ditaduras, para reforçar que as instituições brasileiras são mais fortes do que os ataques direcionados a elas. “Não é um evento passageiro que vai estremecer as bases das nossas instituições. Nós vamos passar, sobreviver e vamos ficar para a história. É ela que vai dizer o que vai acontcer com essas pessoas, que não conseguem compreender o momento do nosso País e querem ir na contramão.”
O reitor da UFSC, Ubaldo Baltazar, falou da importância das universidades na vida de um país, referindo-se à fala do professor Salles sobre as instituições mais antigas do mundo e desejou sucesso à nova diretoria.
Confira o discurso de posse do professor Carlos Alberto Marques, presidente eleito da Apufsc
Quero marcar este ato de posse ressaltando a importância e o papel do sindicato. Não porque seja um dever de ofício, mas porque vivemos um momento grave para a saúde financeira nas universidades e da C&T, que afeta drasticamente as nossas condições de trabalho. É ainda um momento político fortemente desagregador, portador de desumanidades e devastação do ambiente social e natural. Não há como ignorar a situação particular e o contexto geral em que teremos que administrar a Apufsc.
Mas se me permitem, irei antes pronunciar algumas palavras sobre a diretoria que agora termina seu mandato, a qual tive a honra de presidir. Um grupo maravilhoso, comprometido e combativo de pessoas que souberam bem interpretar as consequências políticas decorridas, desde 2016, com o impeachment e a ascensão de um governo de corte liberal, frágil e refém de forças políticas patrimonialistas. Um governo que promoveu reformas, como a Emenda 95, que limitou o teto de gastos públicos, com efeitos extremamente nocivos aos investimentos nas áreas sociais. Aquele governo, moralmente degradado, ajudou a pavimentar a ascensão do governo atual, de corte ainda mais liberal e defensor do estado mínimo. Uma coalisão de força cujas políticas voltadas ao setor educacional e de C&T têm significado medidas absolutamente desastrosas e um retrocesso abissal ao que tínhamos até 2014 em termos de investimento nessas duas áreas. Os resultados se fazem sentir: 14 milhões sem emprego; metade da força de trabalho subempregada, na informalidade ou desempregada; um país que passa fome e ao mesmo tempo é o maior exportador de grãos, um país que tem 151 mil mortos e 5,2 milhões de infectados pela COVID-19 e seu governo insiste em tratar a pandemia com enorme descaso. Vivemos um ambiente social tóxico e de desigualdades crescentes.
É esse cenário que, simbolicamente, nos fez denominar a chapa Apufsc de Lutas e agora Avançar nas Lutas. Quisemos apontar para as lutas de resistência. Resistência contra a deslegitimação da ciência e do serviço público. Resistência contra o sucateamento e desmonte das universidades federais, cujos efeitos afetam praticamente todo o sistema de C&T. A previsão orçamentária para 2021 indica um corte para o custeio das universidades em torno de 18%, ainda assim com incertezas sobre a liberação de 40% do total orçado. Será o menor orçamento para as IFES desde 2010. Para o CNPq, o valor “contingenciado”, devido à lei do teto e regra de ouro, chega à metade de seu orçamento, em torno de R$ 600 milhões. É ainda necessária a luta pela recuperação de nossos salários. É preciso dar continuidade à luta por reestabelecer um sistema de previdência que não penalize os mais jovens na carreira e ainda mais os que já se aposentaram. Para isso tudo é que dissemos que vamos nos juntar aos nossos pares, através da conclusão do processo de filiação nacional.
Foi por ter deixado muito claros nossos princípios, objetivos e propostas – palavras anunciativas balizadas nas práticas sindicais da diretoria que hoje conclui seu mandato – é que se formou um amplo e plural leque de apoios políticos, que nos possibilitaram uma grande vitória eleitoral. Não foi uma simples disputa pela “administração do sindicato”; mas uma disputa entre duas visões, por distintos modelos de entidade. Foi uma disputa entre duas bases de apoio político, expressando, nesse aspecto, o confronto político atual no seio da sociedade brasileira. A maioria dos sindicalizados deixou muito claro que não concorda e não acolhe àqueles que fazem coro ou desdenham os efeitos das atuais políticas governamentais para às universidades e à C&T; políticas essas, repito, que imprimem brutais cortes orçamentários, que limitam a autonomia universitária e, vira e mexe, tentam promover uma reforma que transfigura e atrofia a universidade, a exemplo do programa Future-se.
Por isso é que temos a necessidade de uma Apufsc de lutas. Seremos muito ativos, continuaremos com práticas sindicais democráticas, respeitosascom os diferentes pontos de vista de seus filiados, nos mais diversos temas e problemas universitários. Seguiremos praticando um tipo de sindicalismo que prima o tempo todo por deixar a categoria bem informada, por meio de um jornalismo ativo, investigativo e de múltiplos formatos. Uma diretoria que oferece uma gama de serviços sindicais, que ajuda seus filiados e tutela seus vários interesses e necessidades, a exemplo de um eficiente setor jurídico, de convênios e de atividades culturais. Continuaremos com o GT de Atividades nos Campi do interior, estando perto de todos os nossos filiados, não importa onde estejam. Enfim, faremos valer cada centavo da mensalidade que se paga.
Precisamos ainda, mas do que nunca, ter um sindicalismo moderno e forte, onde sua direção saiba falar a linguagem e tratar de temas acadêmicos e científicos, que trate dos problemas cotidianos dos professores e professoras, compreendendo a natureza da universidade, seu papel estratégico. Foi também por isso que fizemos uma pesquisa sobre nossas incertezas, sobre qual barco estamos navegamos, sobre como vivem e como anda o trabalho de professores e professoras da UFSC. Agora, via o Observatório do Conhecimento – uma articulação que reúne atualmente 14 entidades sindicais nacionais de docentes universitários -, faremos esse mesmo tipo de pesquisa em nível nacional. Queremos saber a percepção da sociedade em relação à universidade, a que servirá para orientar as atividades em defesa do conhecimento, do financiamento da ciência e das universidades, pois é esse o locus principal de profissionalização de nossos jovens e de produção de C&T, de construção do presente e de um futuro soberano do Brasil.
Portanto, conduzir um sindicato docente, moderno, forte e representativo não é tarefa simples. Necessitamos de um sindicato que trabalhe para construir convergências possíveis, respeitando a pluralidade ideológica de sua base. Necessitamos ter claro que um sindicato jamais pode ser confundido com um partido ou uma associação ou clube.
Caros colegas e autoridades aqui presentes. As universidades são instituições complexas, que demoram muito a amadurecer, e demoram mais quanto maiores e mais frequentes forem as interferências que perturbam sua autonomia. Por isso, elas precisam de estabilidade nas relações com o Estado e a Sociedade. As universidades não têm finalidade única e de fácil mensuração. Na história humana, muitos já tentaram atacar a ciência, atacar a universidade e atacar os homens e mulheres que se dedicam profissionalmente a trazer luz e sabedoria à frágil existência humana. Todas essas forças fracassaram. Mas depende de nós para que fracassem nos tempos modernos. Por isso não cabe vacilar ou pestanejar. Ou defendemos as universidades públicas ou ela padecerá diante de governos que representam exclusivamente interesses de minorias poderosas.
Mas é bom ainda recordar, a universidade pode ser tanto num fator de alcance e manutenção de soberania nacional, sinônimo de liberdade e fator de democracia, quanto também ser o seu contrário. Isso ocorre quando a mesma se fecha no corporativismo alienante, em um servilismo ao governo de plantão e quando pratica um extensionismo para fins meramente financeiros. Isso acontece também quando a comunidade universitária age com indiferença e mergulha na crença de que fazer ciência é antagônico com o fazer política, reforçando um distanciamento cujas consequências é a emersão de castas burocráticas e de grupos de poder que se ocupam e se beneficiam das administrações universitárias. Algo que pode também ocorrer com apoio e dentro de sindicatos, em particular do sindicato docente. Uma transfiguração que o torna mero aparelho para fins que não o de representação do conjunto e dos reais interesses dos sindicalizados. Tal ambiente favorece ainda o vanguardismo, que passa a impor suas visões das coisas e acabam aparelhando a estrutura e a vida sindical. Esse tipo de prática não passa desapercebida dos filiados e por isso mesmo é que se afastam do sindicato.
Com isso desejamos ressaltar a necessidade de renovação política na vida sindical. Com o REUNI, mais da metade dos nossos professores, inclusive na UFSC, passou a ser formada por jovens na carreira, com uma formação científica altamente especializada, com elevada capacidade de produção acadêmica, mas com pouca disposição à participação política. Muito diferente dos docentes que vivenciaram períodos anteriores e mais difíceis, como os da ditadura militar, com seus ataques à educação, às liberdades individuais e coletivas, e de retirada dos direitos dos trabalhadores.
Muitos professores sindicalizados à Apufsc foram formados nas lutas de resistência e de grandes conquistas. Essas lutas se constituíram, por isso mesmo, em uma força que levou à fundação do Andes-SN e que, junto com outros sindicatos docentes, se transformaram em força garantidora da gratuidade do ensino e da própria existência da universidade pública. Com a definição sobre nossa filiação nacional, seja qual for a escolha da entidade, creio que devamos nos apresentar, como sempre o fizemos, como uma força renovadora e propulsora do movimento docente nacional moderno.
Para concluir, nós da nova diretoria queremos reafirmar aqui nosso compromisso com princípios e valores expressos nos documentos que publicamos, os quais irão balizar nossas ações para o pleno cumprimento de nosso programa de gestão. Nossas práticas sindicais, como em qualquer regime democrático baseado na representação, serão desenvolvidas nos marcos do nosso Estatuto e, correta e permanentemente, serão vigiadas pelos Conselhos de Representantes e Fiscal.
Nossa palavra é de reconhecimento. Ela é dirigida aos professores e professoras que estão ou estiveram na linha de frente no combate ao Coronavirus. Eles são os que expressam melhor a dedicação e o compromisso profissional e humano que nós todos, docentes da universidade pública, temos com a população de nosso país. E, com um grito de revolta afirmamos: mesmo sendo maltratados e mal falados pelas atuais autoridades do país, amamos e honramos o que fazemos. Somos servidores públicos.
Como nos alerta Yuval Noan Harari, “o maior risco que enfrentamos não é o vírus, mas os demônios interiores da humanidade […]. Mas, não há a necessidade de reagir propagando ódio, ganância e ignorância. Podemos reagir gerando compaixão, generosidade e sabedoria. Podemos optar por acreditar na ciência, e não em teorias conspiratórias. Podemos optar por cooperar com os outros em vez de culpá-los pela epidemia. Podemos optar por compartilhar o que temos, em vez de apenas acumular mais para nós mesmos”.