Após mais de um ano comandado interinamente por um militar, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, responsável pelo monitoramento da Amazônia e alvo de críticas do governo, volta a ter um diretor civil
Alvo de críticas do governo Bolsonaro há mais de um ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) tem um novo diretor. O engenheiro eletricista Clezio Marcos De Nardin, que era coordenador-geral de Ciências Espaciais e Atmosféricas do próprio instituto, foi escolhido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, para assumir o cargo máximo do órgão pelos próximos quatro anos.
Pesquisador da área da ciência espacial, Nardin é um dos criadores do programa de monitoramento do clima espacial no Inpe. A decisão foi publicada nesta sexta-feira, 2, no Diário Oficial da União.
O posto era ocupado desde agosto do ano passado pelo militar Darcton Policarpo Damião, depois que o então diretor, o físico Ricardo Galvão, foi exonerado pelo governo. Coronel da reserva da Aeronáutica, Damião era candidato à vaga definitiva e vinha, desde o fim do ano passado, conduzindo um polêmico processo de reestruturação no Inpe, o que indicava que ele poderia contar com algum favoritismo, o que era rejeitado pela maior parte do instituto e da comunidade científica. Desde sua criação, o Inpe sempre teve diretores civis.
Ao todo, nove pessoas se candidataram ao cargo, entre eles o ex-diretor do Inpe Gilberto Câmara e dois ex-diretores de institutos de pesquisa federais: Nilson Gabas Júnior (que foi do Museu Paraense Emílio Goeldi) e Victor Pellegrini Mammana (Centro de Pesquisas Renato Archer).
Um comitê de busca independente e científico submeteu uma lista tríplice ao ministro Pontes, mas não foram divulgados os nomes que a compunham. “O MCTI dá as boas-vindas ao dr. Clezio Marcos de Nardin, que possui todos os requisitos e competências exigidas para assumir tal missão. Dr. Clezio tomará posse nesta sexta-feira, 2, para uma nova gestão de quatro anos”, informou o Inpe em seu site.
A nota informa que Damião “assume um novo desafio” e será assessor especial de Pontes. O militar recebeu ainda uma condecoração nesta quinta e foi promovido pelo Ministério da Defesa ao grau de comendador.
Ataques ao Inpe
Responsável, entre outras atividades, pelo monitoramento por satélite do desmatamento da Amazônia, o Inpe está há mais de um ano no centro de críticas pesadas do governo federal. Em meados de 2019, quando o desmatamento da Amazônia começou a subir, o presidente Jair Bolsonaro disse diversas vezes que os dados revelados em alertas do sistema Deter, do instituto, eram mentirosos. Bolsonaro chegou a insinuar que Galvão estivesse a “serviço de alguma ONG.”
Galvão, na ocasião, respondeu de forma pesada e acusou o presidente de agir de forma “pusilânime e covarde”. Ele defendeu a qualidade e a transparência dos dados, que foram também chancelados por instituições de pesquisa do Brasil e do exterior, como a Nasa. Mas o estresse foi tamanho que Galvão acabou exonerado.
De lá para cá, toda vez que o Inpe revelava que a situação de desmatamento e queimadas na Amazônia, e mais recentemente, no Pantanal, estava crítica, o governo voltava a atacar as informações. Neste ano, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, questionou várias vezes os sistemas de monitoramento, indicando que eles não seriam o suficiente para ajudar a conter o problema. Ao mesmo tempo, veio à tona a informação que o Ministério da Defesa pretende contratar um novo satélite, ao custo de R$ 145 milhões.
Ao longo do processo de escolha do novo diretor, o Inpe sofreu um novo golpe, com a redução de parte do seu orçamento que é proveniente da Agência Espacial Brasileira.
Leia na íntegra: Estadão