Pesquisa da Ufpel sobre prevalência da Covid-19 no Brasil continua, mas sem verba federal

Levantamento em 133 municípios que usa testes de anticorpos terá mais três fases, bancadas por Fapesp e Itaú Unibanco

A pesquisa EpiCovid-19 BR, que aplica testes de anticorpos em amostras da população em 133 cidades brasileiras para estimar a prevalência da doença, terá mais três etapas, uma delas já encerrou as entrevistas neste domingo (30).

O projeto, que havia sido interrompido depois que o Ministério da Saúde cortou sua verba, será bancado agora pela Fapesp, agência estadual de fomento à ciência de São Paulo, e pelo Todos pela Saúde, iniciativa do banco Itaú Unibanco para resposta à Covid-19 no Brasil.

A pesquisa é considerada importante porque, ao usar seleção de grupos aleatórios por amostragem, oferece uma estimativa da prevalência da doença que catpura casos assintomáticos da Covid-19. A EpiCovid-19 BR também busca analisar melhor a tendência de evolução da epidemia no Brasil, tentando compensar o problema de subnotificação que é inerente ao registro de casos sintomáticos que alimenta os números oficiais da doença.

Durante as seis semanas em que as três primeiras etapas da pesquisa correram, o projeto mostrou que a epidemia de Covid-19 dobrou no período, entre maio e junho,  passando de 1,9% para 3,8% da população, de acordo com uma amostra de mais de 89 mil pessoas testadas.

— Esse projeto permite entender como a doença esta se espalhando pelo país, em diferentes regiões, com que velocidade, em quais faixas etárias e sociais. Ele é importante para nós conseguirmos retomar as atividades e ter alguma perspectiva de futuro — disse Luiz Eugênio Mello, diretor científico da Fapesp ao Globo.

— A iniciativa é importantíssima, não sei dizer se houve qualquer questão política associada a descontinuidade do financiamento, mas agora para a Fapesp o que importa é a ciência, e a ciência produzida por esse projeto é de alta qualidade e extremamente relevante.

O tipo de teste usado na pesquisa é mais adequado para avaliar tendência de epidemia porque, ao contrário do PCR, o teste genético que revela a presença do vírus no organismo, os testes de anticorpos são capazes de revelar se o indivíduo teve a doença e já se recuperou.

Segundo a UFPel, entre outras coisas, a EpiCovid-19 já mostrou que crianças têm risco similar de infecção ao dos adultos, que a maioria dos casos tem sintomas perceptíveis e que a população mais pbre é mais afetada. O diretor do projeto é o pesquisador Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (RS).

A Fapesp deve aportar R$ 13 milhões no projeto, nas fases 5 e 6. A fase 4 é bancada pelo Itaú Unibanco, com R$ 11,5 milhões. As três primeiras fases da pesquisa haviam sido bancadas pelo Ministério da Saúde (R$ 12 milhões), pelo Instituto Serrapilheira (R$ 1 milhão) e pelo projeto Fazer o Bem Faz Bem, da JBS (R$ 4,5 milhões).

Segundo a Fapesp, as duas últimas etapas da pesquisa seguirão a mesma metodologia das anteriores. Serão usados testes sorológicos rápidos da marca chinesa Wondfo, adquiridos pelo governo federal, para fazer os exames. Os testes são de aplicação simples e serão realizados pelos mesmos entrevistadores do Ibope que buscarão os voluntários selecionados por amostragem, realizando também preve perfil social dos respondentes.

Os resultados da quarta-etapa, que encerrou a fase de entrevistas agora, devem sair até a semana que vem. A quinta e a sexta etapa devem ser realizadas, respectivamente, em outubro e novembro.

Fonte: O Globo