Hamilton Mourão afirmou que 60% dos alunos poderiam pagar pela universidade; pesquisa da Andifes revela que perfil socioeconômico dos estudantes é diferente do imaginado pelo vice-presidente
O vice-presidente Hamilton Mourão defendeu nesta semana que estudantes mais ricos paguem mensalidade em universidades federais e “ousou arriscar” que 60% dos alunos teriam condições para tal. Mourão disse ainda que há quem receba ensino de graça e não devolva nada para país. Em contraposição às suposições do vice-presidente, pesquisa feita pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) constatou que 70% dos alunos de graduação têm até um salário mínimo e meio per capita — sendo que 53,5% têm até um salário mínimo per capita.
“Nós temos um paradoxo, que eu gostaria de trazer para todos, que é uma visão que eu tenho de longa data, que é nós termos dentro da universidade federal gente que poderia pagar os seus custos recebendo um ensino de graça e, posteriormente, não devolvendo nada para o país. Simplesmente é formada e passa única e exclusivamente a lidar com a sua vida privada”, afirmou Mourão durante participação em uma aula magna virtual do grupo Ser Educacional.
“Temos que buscar espaço fiscal e fontes de financiamento. E uma fonte de financiamento seria, não tenho assim o dado numérico, mas ouso arriscar que uns 60% dos que frequentam universidade federal têm condições de pagar”, complementou o vice-presidente.
70% dos estudantes têm até um salário mínimo e meio
Último estudo realizado pela Andifes aponta que tem crescido o número de estudantes com renda mensal familiar de até um salário mínimo e meio per capita. Com 4 pontos percentuais a mais do que 2014, alunos nessa faixa alcançam 70,2% do universo pesquisado.
A V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFEs, edição de 2018, mapeou 1,2 milhão de estudantes de 65 Instituições Federais de Ensino Superios (IFEs), sendo 63 universidades e dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets). Ao todo, foram 424.128 respondentes,
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especificamente, o levantamento mais recente, realizado em junho deste ano pela reitoria, mostra que 38,3% dos alunos disseram ter até um salário mínimo per capita (R$ 1.045).
Ainda na mesma pesquisa, 37,2% dos alunos comunicaram ter regressado aos seus municípios de origem durante o ensino remoto, em local diferente onde estudam. Estudar em uma cidade longe da família, em geral, implica indiretamente em gastos com aluguel, contas e alimentação.
A declaração do vice-presidente foi também feita em um momento especialmente delicado. Durante a pandemia, 61,5% dos estudantes da UFSC tiveram sua situação financeira familiar afetada. Desses, 12,2% não possuem reserva financeira e precisam de ajuda da universidade.
Depois da graduação
No que diz respeito aos graduandos das IFEs, 54% visam a inserção no mercado de trabalho imediatamente, enquanto outros 47,8% almejam uma pós-graduação, segundo levantamento da Andifes.
Além de contar com profissionais melhor capacitados no mercado privado, é válido ressaltar que a pós-graduação (Mestrado e Doutorado) implica pesquisa acadêmica e produção de conhecimento científico e tecnológico. Neste caso, o impacto e a contribuição para desenvolvimento da sociedade podem, inclusive, ser monitorados através de diferentes sistemas de avaliação, como o Qualis/Capes, por exemplo.
Em 2017, o Brasil contava com 375.468 alunos de pós-graduação. Desses, mais de 315 mil (84%) estudavam em instituições públicas. Os dados são da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), como mostra reportagem da Piauí.
A educação é direito de todos e dever do Estado e da família. Deve ser promovida e incentivada, visando o desenvolvimento de cada indivíduo, assim como o preparo para o exercício de sua cidadania e qualificação de seu trabalho, conforme previsto no Art. 205 da Constituição Federal.
Imprensa Apufsc