Ministro da Educação e pastor defendeu ensino laico durante sua posse
Pastor presbiteriano, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou em sua posse que defenderia a laicidade da educação à frente da pasta. No cargo, ele nomeou como assessora uma religiosa defensora da adoção de princípios bíblicos no ensino, com críticas a conteúdos de livros didáticos e à Base Nacional Comum Curricular.
Inez Augusto Borges foi nomeada na sexta-feira (21) como assessora especial do MEC (Ministério da Educação). O salário é de R$ 13.623,39.
Consta em seu currículo que ela é doutora em ciência da religião e mestre em educação cristã. Religiosa, presbiteriana como o ministro, realiza palestras em igrejas e eventos voltados a educadores a partir de temas como “Retorno aos princípios bíblicos da educação” e “Cosmovisão & educação”.
Seu site informa que ela tem se dedicado à pesquisa nas áreas de educação, cultura e governo “a partir de uma perspectiva que integra a visão bíblica, histórica, filosófica e política”. Não há registro de experiência em políticas públicas.
A pasta não respondeu questionamentos da Folha sobre qual será a função dela no governo.
Borges realizou, neste mês, palestra durante evento online da igreja Presbiteriana da Penha (SP). Ao citar a pandemia do novo coronavírus, que matou mais de 110 mil pessoas no Brasil, ela disse que vivemos uma crise ainda maior.
“Vivemos uma crise mundial de autoridade, uma crise mundial em relação a governo, e nós precisamos retornar aos princípios bíblicos de governo, precisamos entender o que é o Reino de Deus”, afirmou.
A Constituição de 1988 veta à União estabelecer ou subvencionar cultos religiosos ou igrejas. Também determina que à educação seja oferecida com base no pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas.
Em outra palestra, intitulada “Retorno aos princípios bíblicos da educação”, de setembro de 2018, a assessora do MEC crítica à menção de quilombolas em um livro didático e à Base Nacional Comum Curricular. O documento prevê os direitos de aprendizagem na educação básica.
Ainda há críticas dela ao que seria a pedagogia atual e um suposto movimento internacional de dominação cultural. O argumento, repetido por partidários do Movimento Escola sem Partido e por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), é de que haveria uma ação de dominação de esquerda na educação mundial e que isso colocaria em risco valores de família defendidos pela Igreja.
Leia na íntegra: Folha