Por Marcelo Carvalho
Situações como o da menina de 10 anos que engravidou após ter sido estuprada por um familiar sempre potencializa o clamor do lobby abortista, pois, nesses casos, o lobby da morte fica mais barulhento ao se escorar em legislação que, infelizmente, permite o aborto em casos de estupro.
Em vista da situação, o problema maior é saber se a menina dispõe de informação para decidir sem ser influenciada pelo aconselhamento de profissionais que sejam eventualmente pró- aborto.
Imagina-se que agora a menina esteja sob a proteção do estado acompanhada por assistentes sociais, psicólogos, médicos, pessoas do juizado de menores etc., designados para colocá-la a par dos direitos que tem de realizar um aborto. Mas, será que para o benefício da própria menina ela não deveria ter também o aconselhamento de profissionais ou pastores que lhe permita contemplar a opção pró-vida?
É comum no discurso da grande mídia, até então inclinada à pauta abortista, ver apenas a situação da vítima do estupro que engravidou, esquecendo que a opção pelo aborto equivale a uma sentença de morte de um ser humano que se encontra em gestação no ventre da mãe.
Estamos assim diante de duas situações espinhosas, mas que são muito simples de serem entendidas. De um lado, há o sofrimento da vítima do estupro que é visível e doloroso pelo profundo impacto que isso traz a vida da mulher. Por outro lado, há o cruel e irreversível ato do aborto que elimina a vida de um ser humano que não tem voz nem proteção plena. Qual dos males se mostra menor?
O fato do aborto aniquilar um ser humano no ventre da mãe, silenciando-o de um modo a sequer permitir que se verbalize a violência sofrida, não faz com que essa violência não tenha ocorrido. E é a impossibilidade do abortado expressar o sofrimento que faz com que o aborto esconda o quão cruel ele é, tornando-se assim algo fácil de ser manipulado e defendido por muitos.
Vemos então que todo processo de naturalização do aborto ocorre por meio de um condicionamento mental e de um entorpecimento do espírito onde somos levados a não perceber o aborto como um ato violento imposto ao outro, ou a justificá-lo alegando que fetos não sofrem, ou que se sofrem ainda assim não estariam sujeitos a compaixão por não serem considerados humanos. Mas, não é exatamente este o condicionamento mental que nos desumaniza?
É desconcertante que não nos surpreendemos de ver espécies na natureza capazes de matar suas crias tão logo nascem e sem parcimônia entendemos isso alegando que são criaturas irracionais.
É então paradoxal que com o aborto o ser humano racional faça o mesmo que essas criaturas (e numa escala jamais superada por qualquer outra espécie animal). Ora, se a racionalidade nos difere das outras criaturas e não nos impede de realizar o aborto é porque o problema tem outra origem.
Aqui, eu convido o leitor a pensar que a forma como experimentamos a natureza humana nos faz transitar entre níveis extremos numa escala que vai da selvageria a nobreza e onde a capacidade (rara, é verdade) de ter compaixão pelo outro nos lembra que ainda temos algo da imagem e semelhança de Deus e, portanto, somos destinados a algo grandioso. E somente neste estágio onde conseguimos ser compassivos que há algo de positivo em sermos humanos.
Voltemos então ao questionamento sobre o menor dos males. Entre a menina estuprada a quem se dá a possibilidade do aborto e o ser humano que ela carrega no seu ventre a quem se abre a possibilidade de exercermos a maior compaixão, de que forma decidiríamos de modo a sermos inquestionavelmente humanos no sentido positivo do termo? A resposta é óbvia e é contrária ao aborto.
Espero que essa menina possa fazer a mais bela escolha, por ela e pelo ser humano que ela gerou e que carrega em seu ventre, contrariando a cruel e desumana agenda abortista.
Marcelo Carvalho é professor do Departamento de Matemática
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