Instituto Butantan e Fiocruz surgiram em meia a surto, viveram perseguição política e estão na vanguarda da pesquisa para solução ao coronavírus
Em 1900, o Brasil viveu uma sucessão de surtos de peste bubônica, algo que se repetiria pelos cinco anos seguintes. A necessidade de dar uma resposta a essa crise fez com que o governo brasileiro instituísse dois laboratórios para a produção de vacina e soro contra a doença. Era o surgimento do Instituto Soroterápico Municipal, no Rio de Janeiro, que viria se tornar a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e do Instituto Serumtherápico, que viraria o Butantan. Passados 120 anos, as duas instituições estão na linha de frente do combate a um novo inimigo, a Covid-19.
“A fundação surge há 120 anos, junto com o Butantan, a partir de uma crise sanitária. A demanda naquele momento era responder à situação, mas houve ainda a visão de um futuro por Oswaldo Cruz. Ele reuniu um grupo de pesquisadores para também reforçar a capacidade da ciência dali para frente”, afirma Nísia Trindade, presidente da Fiocruz.
Em São Paulo, foi o médico Vital Brazil que chefiou a produção de vacinas contra a peste na fazenda Butantan, terreno ocupado pelo Instituto Serumtherápico. “O Butantan nasceu de uma epidemia. Desde então, tem enfrentado várias outras. A última foi de H1N1. Não somos só um local de produção de vacina, somos também um centro de pesquisa”, afirma Dimas Covas, presidente da instituição.
Os anos 1970 ficaram marcados por uma crise nas instituições que transbordava as questões de saúde. Foi quando o governo militar perseguiu e afastou dez cientistas da Fiocruz. O historiador Daniel Elian, autor de “O massacre de Manguinhos”, afirma que a cassação foi motivada pela visão deles a respeito da saúde pública. O grupo integrava uma ala de pesquisadores que defendia o emprego da ciência em prol do desenvolvimento nacional, o que era visto como politização pelos generais no poder.
Divisor de águas
As crises, aponta Nísia, evidenciaram que a função dessas instituições está além de governos. Para ela, a atual situação da pandemia no país deve fortalecer a pesquisa científica.
“A questão do negacionismo da ciência e, infelizmente, a Covid-19 têm ressaltado a necessidade de evidências e pesquisas cientificas. Podemos dizer que as crises trazem aprendizado e uma delas é que aproximamos todas as nossas capacidades científicas com o sistema de saúde” afirma.
Atualmente, as instituições estão empenhadas em viabilizar vacinas contra o vírus SARS-CoV-2. O Butantan está na última fase de testes para a versão da farmacêutica chinesa Sinovac. Já a Fiocruz vai produzir a da Universidade de Oxford, em parceria com o laboratório AstraZeneca.
Leia na íntegra: O Globo