Pesquisa a partir de compostos de quatro espécies que juntos podem neutralizar a principal enzima do vírus causador da covid-19 recebeu aprovação da Capes
Uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) busca desenvolver possíveis medicamentos contra o novo coronavírus a partir de plantas comestíveis. O trabalho também inclui a Universidade Federal da Paraíba e a Universidade Federal do ABC, em São Paulo.
O objetivo dos pesquisadores é bloquear a principal enzima do novo coronavírus, chamada de protease Mpro, a partir de compostos de quatro plantas identificadas.
Após uma avaliação biológica, os compostos mais ativos dessas plantas contra o vírus causador da covid-19 servirão de base para serem transformados em novas substâncias combinadas que possam combater o coronavírus com maior eficiência.
Para os pesquisadores, os produtos a serem formulados são derivados híbridos com heterocíclicos bioativos ou porções de organoselênio. Na prática, com a ajuda de computadores, a ciência vai combinar as substâncias mais eficientes dos compostos dessas plantas para o combate ao vírus.
– São plantas simples, mas que têm alguns princípios ativos com propriedades de inibir as enzimas, mas que não bastam (sozinhas para impedir o novo coronavírus). Vamos conectar em laboratório esses produtos naturais com outras moléculas, compostos heterocíclicos ou de selênio, para levar a moléculas de maior complexidade estrutural, com atividade biológica aumentada – detalha o professor Antonio Luiz Braga, do Departamento de Química da UFSC.
O grupo de pesquisadores conseguiu apoio da Capes para desenvolver o projeto, o que deve propiciar um financiamento de R$ 100 mil, quatro bolsas de doutorado e seis de pós-doutorado.
A estratégia é chamada de biodirigida, porque o desenvolvimento das moléculas se baseia em uma enzima importante do vírus. Mesmo antes da aprovação do apoio ao projeto, os estudos já estavam em andamento.
– Já fizemos reações com alguns produtos naturais visando disponibilizar maior quantidade de moléculas bioativas. Também já estamos iniciando estudos via computador, através do colaborador da Universidade Federal da Paraíba, Marcus Scotti – aponta Braga.
O professor da UFSC explica que os testes usam computadores de alto desempenho para testar possíveis combinações que ajudem no combate ao vírus.
– A enzima do vírus é uma molécula complexa, uma proteína, e demanda muita memória. Precisa testar cada composto desses, ver como se adequa e interage com a enzima. A gente chama isso de modelagem molecular: como ele se aproxima e se encaixa nessa enzima, como uma chave e fechadura. Então nós temos que inibir essa enzima utilizada pelo vírus para entrar se replicar no nosso organismo – conta o pesquisador.
A ideia dos responsáveis pelo projeto é também fazer colaborações com laboratórios que possuem o vírus em si, não somente a enzima do vírus. Os pesquisadores estimam que em janeiro haja moléculas para serem testadas nos próprios vírus.
Fonte: NSC