Pedido foi feito no mesmo dia em que Weintraub anunciou sua saída do cargo que lhe conferia o benefício do passaporte diplomático
O Itamaraty pediu à Embaixada dos Estados Unidos um visto de entrada no país para Abraham Weintraub com dados do passaporte diplomático que ele havia recebido por ser ministro da Educação. O pedido foi feito no mesmo dia em que Weintraub anunciou sua saída do cargo que lhe conferia o benefício do passaporte diplomático.
Documentos e informações liberados pelo Itamaraty via Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que Weintraub informou que queria deixar o país com a “brevidade possível”. Também por meio da LAI, o Itamaraty informou que não há registro de devolução do passaporte de Weintraub, o que reforça a suspeita de que ele utilizou o documento para entrar nos Estados Unidos.
As informações e documentos liberados pelo Itamaraty foram em resposta a dois pedidos de acesso à informação e estão disponíveis no repositório de pedidos via LAI da Controladoria Geral da União (CGU). Os documentos não informam, porém, se o visto solicitado foi concedido pelo governo norte-americano. O GLOBO questionou a Embaixada dos Estados Unidos sobre o episódio, mas até o momento, não recebeu retorno. Caso o visto tenha sido concedido, o processo entre a solicitação e a concessão da permissão de entrada durou pouco mais de 24 horas.
De acordo com as informações, Weintraub pediu a intervenção do MRE para que ele conseguisse entrar nos EUA. No dia 18 de junho, segundo o órgão, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, foi informado por Weintraub sobre sua indicação ao cargo de diretor-executivo do Banco Mundial, em Washington, feita pelo Ministério da Economia.
A comunicação ocorreu, segundo o Itamaraty, no mesmo dia em que Weintraub anunciou sua saída do cargo de ministro da Educação em um vídeo publicado em redes sociais ao lado do presidente Jair Bolsonaro. No vídeo, Weintraub ainda chegou a prometer que, nos “próximos dias”, faria a transição do cargo para o futuro novo ministro, mas viajou no dia seguinte.
A Ernesto Araújo, Weintraub disse que gostaria de deixar o Brasil rapidamente. “O Senhor Weintraub limitou-se a indicar a intenção de viajar a Washington com a brevidade possível”, diz trecho da resposta enviada pelo Itamaraty.
Ainda no dia 18, o Itamaraty enviou um pedido de visto para a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.O documento mostra que o tipo de passaporte informado no pedido do visto foi o “diplomático”. O documento contém tarjas nos campos onde constam o local e data de nascimento de Weintraub e o número do seu passaporte.
No documento, o Itamaraty diz que a viagem de Weintraub era necessária para ele “assumir o cargo de diretor executivo do Banco Mundial em Washington”. Mais de um mês depois, porém, Weintraub ainda não assumiu a vaga. Isso porque é preciso que a indicação feita pelo governo brasileiro seja votada por um grupo de nove países. A tendência é que a indicação seja aprovada.
Segundo o Itamaraty, a atuação do ministério foi “habitual”. “Trata-se aqui de procedimento habitual em casos de designação de representantes do governo brasileiro junto a organismos internacionais”, disse o Itamaraty em resposta ao pedido de acesso a informação. O Itamaraty também informou que não há registros de que Weintraub tenha devolvido seu passaporte diplomático.
Leia na íntegra: O Globo