Ministro é pastor presbiteriano e ligado a colega da Justiça
Quarto nomeado para comandar o Ministério da Educação (MEC), o pastor e professor Milton Ribeiro foi escolhido para o cargo pelo presidente Jair Bolsonaro em meio a uma disputa acirrada entre indicados da bancada evangélica, dos militares e do Centrão. A indicação de Ribeiro é atribuída ao ministro da Justiça e da Segurança Pública, André Mendonça, com aval do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, e dos filhos do presidente.
Mendonça está tão próximo de Bolsonaro, que ganhou uma sala no Palácio do Planalto para despachar. Em abril, Oliveira abriu mão da nomeação para o Ministério da Justiça e o indicou para o lugar de Sergio Moro. Em seguida, ambos avalizaram a escolha de José Levi para a cadeira de Mendonça na Advocacia-Geral da União (AGU). Desde então, Oliveira e Mendonça tocam afinados no governo e despontam como os conselheiros jurídicos da máxima confiança de Bolsonaro.
Milton Ribeiro é próximo de Mendonça e têm afinidade religiosa: ambos são pastores da Igreja Presbiteriana, o titular do MEC em Santos, e o da Justiça em Brasília. Quando ainda estava à frente da AGU, em abril do ano passado, Mendonça já havia apresentado o nome de Ribeiro para o comando do MEC, com a demissão de Ricardo Vélez Rodríguez. Como prevaleceu a escolha de Abraham Weintraub, Ribeiro seria nomeado um mês depois para a vaga na Comissão de Ética Pública da Presidência.
Ribeiro desbancou o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correia, que tinha o apoio da bancada evangélica e de oficiais militares ligados à Força Aérea Brasileira (FAB), e o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), que corria por fora. A eventual escolha de Vitor Hugo abriria a corrida pela vaga de líder governista, que fatalmente seria confiada a um deputado do Centrão.
A bancada evangélica recebeu com ressalvas a nomeação do ex-vice-reitor da Universidade Mackenzie para o MEC. Uma das críticas é de que o Mackenzie seria um “ator esquerdista” entre os institutos educacionais evangélicos. “A indicação é do presbiteriano André Mendonça que indicou um pastor presbiteriano, não tem a ver com líderes evangélicos”, disse um integrante da bancada ao Valor.
Em sua conta no Twitter, o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) registrou que a escolha de Ribeiro foi do presidente, e “não teve interferência alguma da Frente Parlamentar Evangélica”.
Antes que se formalizasse a opção pelo pastor presbiteriano, o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, antecipou-se em divulgar sua recusa ao convite para assumir o MEC. Foi uma saída honrosa para evitar o constrangimento de ser publicamente rejeitado duas vezes para o cargo.
Com aval do Centrão e de empresários ligados à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Feder era indicado do governador do Paraná, Ratinho Júnior, e do ministro das Comunicações, Fábio Faria, ambos do PSD. Mas foi alijado da disputa após a ofensiva contrária ao seu nome capitaneada pelos evangélicos e olavistas. Bolsonaro tinha simpatia pelo pelo nome do reitor do ITA, mas Correia teria reivindicado carta branca para formar sua equipe no MEC.
Ribeiro assumirá o MEC com o desafio de resolver problemas como o adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o impasse sobre o ano letivo interrompido pela pandemia, e ao mesmo tempo terá de equacionar interesses dos olavistas e dos representantes do Centrão, que dividem espaços na pasta.
A expectativa é de que Ribeiro promova poucas mudanças no segundo escalão. Ele deve manter o Centrão no comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), com orçamento de R$ 30 bilhões. Há um mês, Marcelo Lopes da Ponte, ex-chefe de gabinete do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), tomou posse na presidência do órgão.
Ribeiro também deve preservar os dois nomes mais ligados a Olavo: o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, o mais longevo no MEC, que está no cargo desde o começo do governo; e o secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior, Ricardo Braga, que deixou a Secretaria Especial de Cultura no ano passado para integrar o MEC.
Em meio à discussão sobre a proposta de emenda constitucional que tornará permanente o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), Ribeiro também deve preservar a secretária de Educação Básica, Ilona Becskeházy, que é referência na área, tem pensamento alinhado com o governo e assumiu o cargo há apenas três meses.
“Acredito ser hora de darmos atenção especial à educação básica, fundamental e ao ensino profissionalizante. Ao mesmo tempo devemos incrementar o ensino superior e a pesquisa científica”, disse o novo ministro em suas redes sociais. Diferente de seus antecessores, Abraham Weintraub e Ricardo Vélez, fez questão de ressaltar que buscará diálogo à frente da pasta. “É hora de um verdadeiro pacto pela qualidade da educação em todos os níveis. Precisamos de todos: da classe política, academia, estudantes, suas famílias e da sociedade em geral. Esse ideal deve nos unir”, comprometeu-se.