Busca por imunizante do coronavírus envolve 147 pesquisas pelo mundo que devem resultar em doses no Brasil já na virada do ano
Eis a pergunta que não quer calar: afinal, vai ter vacina contra a covid-19? Sim. Até outubro, devem ser divulgadas as informações definitivas sobre a eficácia das primeiras candidatas a imunizantes desenvolvidas para conter a doença, cuja expansão provocou, até aqui, a morte de quase 550 mil pessoas no mundo. Se tudo der certo com os testes em curso, o Brasil poderá contar com 90 milhões de doses desses produtos entre o fim do ano e o início de 2021.
Tantas esperanças concentram-se em duas frentes. A primeira responde pelo nome de AZD 1222, mas já foi chamada de ChAdOx1. Tais emaranhados de letras e números nasceram nas bancadas do Jenner Institute, da Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a farmacêutica sueco-britânica AstraZeneca. Eles designam a vacina que está sendo aplicada em 50 mil voluntários desde junho.
São 5 mil pessoas no Brasil, 30 mil nos EUA, 10 mil no Reino Unido e outros 5 mil espalhados pela África e Ásia. “Os resultados dos testes devem sair entre setembro e outubro”, diz Jorge Mazzei, diretor de relações corporativas da AstraZeneca. “Se as análises forem positivas, teremos 30 milhões de doses disponíveis entre dezembro e janeiro no Brasil, com a expectativa de mais 70 milhões num segundo momento. Em todo o mundo, vamos produzir 2 bilhões de doses em 2021.”
A segunda fonte de expectativas vem da China. A CoronaVac, vacina criada pela Sinovac, empresa de biotecnologia com sede em Pequim, está sendo testada em 9 mil brasileiros, em 12 regiões. Em São Paulo, abrangem a capital paulista, São Caetano, Campinas, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto. Isso além de polos em três Estados (Rio, Minas, Paraná) no Distrito Federal.
“Em uma boa perspectiva, poderemos concluir os ensaios até o fim deste ano”, diz Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, em São Paulo, responsável pela condução dos estudos no país. “Mas já teremos 60 milhões de doses da vacina à disposição em setembro, e esse número pode chegar a 120 milhões no início de 2021.”
É enorme a ansiedade em torno da descoberta de um imunizante contra o Sars-CoV-2, o vírus que causa a covid-19. Uma vacina representaria uma barreira contra o desastre sanitário e econômico que varre o planeta, além de proporcionar possível passagem de volta à vida como ela era antes. Porém, cabem “senões” às notícias alvissareiras dadas até aqui. Esses experimentos, observam especialistas, precisam comprovar sua eficácia – tarefa que não é trivial.
A inserção do Brasil na vanguarda dos exames clínicos deu-se por linhas tortas. Embora os laboratórios internacionais reconheçam a qualidade da ciência praticada por aqui, esses ensaios ocorrem em locais onde o coronavírus está bem ativo. Quanto mais ele fervilhar, melhor para os exames. Como a covid-19 está em franca ascensão no país, os brasileiros assumiram o posto de cobaias preferenciais do planeta. “Nós nos tornamos um campo de testes fantástico”, diz Soraya Smaili, reitora da Unifesp, que coordena o estudo da candidata a vacina da dupla Oxford-AstraZeneca. “Mas o fato é que todos reconhecem que podemos fazer um excelente trabalho nesse campo, e essa é uma lição importante para o país.”
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