Projeto terá como público-alvo pacientes curados do novo coronavírus
Um estudo com o objetivo de avaliar o impacto de um programa de reabilitação respiratória em sobreviventes da Covid-19 será coordenado por pesquisadores e profissionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) – Campus Araranguá, Hospital Regional Deputado Afonso Guizzo (HRA), Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (Unesc) e Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul).
A proposta de pesquisa foi uma das vencedoras, anunciadas na terça-feira, dia 7 de julho, da chamada pública Pesquisa para enfrentamento da Covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Intitulada RE2SCUE: REabilitação REspiratória – um estudo clínico randomizado, o projeto foi contemplado na categoria Atenção à Saúde, que apoia estudos que avaliem a atenção à saúde dos usuários dos sistemas de saúde (públicos e privados) nos três níveis de complexidade. O projeto terá como público-alvo os pacientes curados do novo coronavírus.
“Pacientes após alta hospitalar de Covid-19 continuam com sérios problemas de saúde, com impacto negativo na qualidade de vida e retorno às atividades econômicas. A proposta é estudar a melhor forma de reabilitar estes pacientes, e acelerar o retorno ao trabalho e sociedade”, explica o coordenador do projeto e professor do Departamento de Ciências da Saúde (DCS) do Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde (CTS) da UFSC Araranguá, Aderbal Silva Aguiar Júnior.
O projeto da pesquisa traz que a doença “resulta na diminuição das atividades da vida diária e qualidade de vida, acompanhada por diminuição da função física e mental”. Os pesquisadores argumentam que distúrbios respiratórios e inatividade física podem levar a doenças como síndrome da apraxia e infecções pulmonares. Portanto, para sobreviventes do Covid-19 que receberam alta hospitalar, a função respiratória melhorada é um fator importante na manutenção da qualidade de vida do paciente. E, em um cenário pós-pandemia de retorno integral às atividades econômicas, refletirá no menor custo às empresas e à União, por meio da diminuição dos afastamentos devido à enfermidade.
Com a participação dos professores Paulo Cesar Lock Silveira, do Laboratório de Fisiopatologia Experimental da Unesc, e Rafael Mariano de Bitencourt, do Laboratório de Neurociência Comportamental da Unisul, a implementação do RE2SCUE pode trazer conhecimento e experiência para a abordagem de doenças infecciosas e pandêmicas. A proposta também colabora para o desenvolvimento científico da região Sul catarinense, ao fortalecer as universidades locais e formar recursos humanos especializados, como os alunos de medicina e fisioterapia da UFSC, Unisul e Unesc, também mestres, doutores e pós-doutores.
Desenvolvimento da pesquisa
De acordo com o professor Aderbal, a proposta já foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) e, depois de aprovada, será registrada na Rede Brasileira de Ensaios Clínicos.
Conforme o projeto, serão recrutados 72 participantes após alta hospitalar em municípios do Extremo Sul de Santa Catarina. Eles serão instruídos de todos os procedimentos da reabilitação, incluindo reabilitação respiratória (2 sessões por semana, durante 6 semanas), uma vez por dia, durante 30-40 minutos. Os pacientes realizarão radiografia e tomografia pulmonar completa no início e ao final das semanas de intervenção.
“Avaliaremos de modo contínuo a percepção subjetiva de esforço, frequência cardíaca, pressão arterial e saturação de oxigênio dos pacientes. Estas atividades são baseadas na experiência do projeto de extensão do grupo para pacientes respiratórios no Departamento de Fisioterapia do Hospital Regional de Araranguá e recomendações da literatura”, detalha a proposta.
As experiências e os resultados parciais serão apresentados de forma transparente e regular nas redes sociais e no website próprio do projeto no endereço re2scue.ufsc.br. Os resultados finais serão publicados em um manuscrito científico de acesso livre, através de recursos garantidos pelo CNPq. Além disso, estarão acessíveis para comunidade acadêmica por meio de palestras, resumos, publicação preprint (open access) e manuscrito científico do protocolo clínico e do estudo clínico randomizado disponível com acesso livre (open access).
A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) está associada à chamada pública na forma de cofinanciamento de bolsas de pós-graduação e pós-doutorado para as propostas selecionadas. A UFSC irá disponibilizar a infraestrutura para a realização da pesquisa, que será desenvolvida no Laboratório de Bioquímica Experimental (LaBioEx), Laboratório de Fisioterapia Cardiorrespiratória (Lacor) e Laboratório Multiusuário de Estudos em Biologia (Lameb).
“Este projeto acompanha a sociedade no principal problema atual: a Covid-19. Após uma difícil etapa hospitalar para sobrevivência, as pessoas precisam de cuidados para viver e trabalhar. Este segundo passo é alvo da nossa proposta. A experiência compartilhada vai ser amplamente divulgada para sociedade e comunidade clínica-científica, ajudando pessoas em todos os lugares”, diz o professor Aderbal Aguiar.
“Agradeço ao CNPq na agilidade em detectar a necessidade de financiamento para resolução dos problemas relacionados à Covid-19 e também à contrapartida da Fapesc nas bolsas de pós-graduação para desenvolver este projeto. Precisamos de recursos financeiros, mas também de recursos humanos. Vontade de trabalhar já está no espírito da comunidade universitária. Falta mais apoio como agora”, finaliza.
Maykon Oliveira em Notícias UFSC