São parceiros no projeto: Instituto Butantan, UFRJ, UFMG, Universidade de Cambridge e Karolinska Institutet
O desenvolvimento de uma vacina contra o vírus SARS-CoV-2 será coordenado pelos pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) André Báfica e Daniel Mansur, ambos do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia. O financiamento foi aprovado na chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ‘Pesquisas para enfrentamento da Covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves’, cujo resultado final foi divulgado na tarde desta terça-feira, 7 de julho.
O projeto é uma parceria dos professores da UFSC com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Cambridge (Inglaterra), o Instituto Butantan e Karolinska Institutet (Suécia).
A proposta é uma BCG recombinante: aproveitar a plataforma vacinal da BCG (uma vacina antiga e segura) para o novo coronavírus através da expressão de proteínas que induzam uma resposta imune efetiva contra o SARS-CoV-2 por mais tempo. “Um dos achados recentes na literatura (médica) é que as respostas imunes contra este vírus também envolvem linfócitos T, por exemplo, CD4 e CD8. Com a BCG recombinante, hipotetizamos que haverá indução deste tipo de resposta. Se isso for verdade, pensando lá no futuro, teríamos na mesma injeção uma vacina dupla, contra a tuberculose e contra a Covid-19, que as crianças tomam quando ainda estão no hospital. Claramente isto está muito longe. Estamos na parte inicial, desenhando os alvos do ponto de vista molecular”, explica Báfica. “Em conversa com colaboradores da Austrália, acabei de saber que a mistura da BCG com proteínas purificadas do SARS-Cov-2 aumenta a resposta imune contra o vírus. Estes dados preliminares indicam que estamos no caminho certo.”
A esperança é que os primeiros experimentos sejam realizados em janeiro. “Inicialmente, vamos trabalhar nos vetores vacinais. Essa primeira parte, construir a bactéria recombinante, demora cerca de seis meses para que fique pronto. Depois, é preciso testar se este protótipo de vacina induz uma resposta imune contra o coronavírus. Temos algumas formas de medir, como por exemplo se a vacina induz anticorpos neutralizantes contra os vírus que estão circulando em nossa região”, planeja o pesquisador.
Em paralelo a estas investigações, os pesquisadores irão se debruçar sobre a ciência básica na dinâmica da resposta imunológica: quais os anticorpos foram gerados e onde eles se encaixam. “Para o vírus entrar na célula humana, ele precisa de um receptor, um espécie de encaixe molecular. O que queremos com uma vacina? Que os anticorpos impeçam este encaixe, para que não infecte a célula. Os anticorpos neutralizantes têm uma alta afinidade contra estas proteínas do vírus”, exemplifica Báfica. “O pró da BCG é ser uma vacina administrada em 500 milhões de pessoas por ano, no mundo inteiro. Se a primeira meta do projeto funcionar de acordo com o plano, a vacina vai expressar proteínas do vírus, num vetor seguro, e, segundo nossa hipótese, induzirá uma resposta de células T mais eficientes do que alguns dos vetores que estão circulando por aí. Mas para saber de fato, precisamos testar, ciência é isso”, indica o professor.
O financiamento aprovado pelo CNPq prevê a contratação de bolsistas de desenvolvimento tecnológico para apoio dos grupos de pesquisa. A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação no Estado de Santa Catarina (Fapesc) vai abrir chamada de um edital de bolsas de pós-doutorado e pós-graduação para quem receber financiamento do CNPq. “O financiamento vai estabelecer uma plataforma para desenvolver estas vacinas aqui na UFSC, e envolve treinamento avançado em biologia molecular, imunologia, virologia e microbiologia para as pessoas que forem selecionadas”, explica o pesquisador.
A verba alocada pelo CNPq não irá garantir um laboratório com nível III de biossegurança (NB3) completo – a falta de laboratório e financiamentos impediam pesquisas sobre o novo coronavírus. De R$ 2 milhões, a verba foi diminuída para R$ 1,7 milhão, e ainda precisa ser dividida com as instituições parceiras. “Os experimentos para verificar o funcionamento das vacinas requerem um NB3. Nós não teremos um NB3 completo, mas uma boa parte dele. Ainda falta atrairmos recursos para compra de um último equipamento, e que estamos participando de editais em outras agências”, diz Bafica, que visitou recentemente o novo prédio do Centro de Ciências Biológicas (CCB): uma empresa especializada em laboratórios NB3 aprovada pelo Ministério da Saúde já analisou o espaço destinado à estrutura no edifício. Com o laboratório, será possível avançar em outros aspectos da ciência na UFSC. “Será um espaço construído com dinheiro público e, poderá contribuir com outros projeto de pesquisa biomédica e para uma resposta mais rápida para nossa sociedade”, finaliza o pesquisador.
Fonte: Agecom UFSC