Número de casos cresceu 142% desde o início de consórcio de veículos de imprensa criado para apurar os dados da pandemia
A epidemia da Covid-19 parece longe de estar sob controle no Brasil, com taxa de contágio em alta na última semana. O coronavírus aterrissou oficialmente no Brasil em fevereiro, chegou aos 100 mil casos em maio, atingiu 1,6 milhão no último domingo, e os cientistas ainda têm dificuldades para saber quando o número galopante de contágios será freado.
Hoje, um consórcio de veículos de imprensa criado para apurar notificações diárias da pandemia completa um mês de existência. Nesse período, o número de casos de coronavírus no país aumentou 142%, chegando a 1.674.655, e o de mortes, 83%, com um total de 66.868. Os levantamentos, realizados com base em dados das secretarias estaduais de Saúde, são do GLOBO, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo. O presidente Jair Bolsonaro declarou ontem que entrou no rol de pessoas contaminadas pela Covid-19.
Pesquisador da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, Gabriel Maisonnave Arisi destaca que a pandemia cresce em um “ritmo absurdo”, constantemente chegando a quase 50 mil casos por dia – e esse índice, ressalta, pode ser até seis vezes maior, considerando a taxa elevada de subnotificação.
“A pandemia pode até atingir o platô na Grande São Paulo, mas vemos seu fluxo para cidades do interior, onde sequer há estrutura para atendimentos de saúde básica”, alerta. “É difícil entender o comportamento epidemiológico de um coronavírus. Não sabemos qual percentual de população infectada seria necessária para atingir a imunidade de rebanho, mas por enquanto não devemos contar que isso pode acontecer em qualquer região do país”.
A pandemia da Covid-19, avalia Arisi, ainda está em “fase inicial” no Brasil. O pesquisador acredita que os casos de coronavírus podem avançar por mais de um ano, mesmo após o desenvolvimento de uma vacina.
“Precisaríamos esperar que essa imunização fosse criada, amplamente disponibilizada e, depois, aceita pela população. Esta última etapa pode não ser tão fácil, considerando a força dos movimentos antivacina”, ressalta. “Por enquanto, do ponto de vista clínico, a principal estratégia é o distanciamento social, e ainda há relutâncias para essa prática. A abertura de shoppings e igrejas, que já ocorre em grandes cidades, deveria estar fora de questão”.
Na semana passada, a pequisa Epicovid-19 BR, conduzida por cientistas da Universidade Federal de Pelotas, indicou que, em um mês e meio, o número de infectados por Covid-19 dobrou no país, de 1,9% da população para 3,8%, enquanto a adesão a políticas de isolamento social caiu de 23,1% para 18,9%. A quantidade de pessoas que dizem ficar sempre em casa diminuiu de 23,1% para 18,9%, enquanto aqueles que dizem sair diariamente aumentaram de 20,2% para 26,2%.
A Covid-19 avança significativamente nos rincões do país. Em Roraima, cada pessoa infectada transmite a doença para duas saudáveis. Devido à sua chegada em cidades do interior, o Ceará ultrapassou o Rio de Janeiro e tornou-se o segundo estado com mais registros da doença, atrás apenas de São Paulo. A situação também é crítica no Sul do país, em estados como o Paraná, que foram os últimos atingidos pela pandemia.
Fonte: O Globo