Secretaria Estadual de Educação afirma que 1% do total de estudantes da rede estadual não tem acesso às aulas remotas; sindicato dos Professores afirma que índice está distorcido
Diante da pandemia, o Governo do Paraná implantou ensino remoto para mais de um milhão de alunos da rede pública. Por um lado, a Secretaria de Educação afirma que o programa é um sucesso por atingir 99% dos estudantes; por outro, os professores questionam a qualidade da aprendizagem.
Ao longo de três meses, o “Aula Paraná” funciona por transmissão via TV aberta, internet, aplicativo para smartphone e impressão de atividades que devem ser retiradas na escola.
“No nosso entendimento é uma inconstitucionalidade de oferta, já que não está sendo oferecido igualmente. Há famílias com três ou quatro filhos que possuem apenas um celular e não têm computador. Em muitas cidades, o canal digital não funciona. Não basta divulgar os números de acesso se a aprendizagem não tem qualidade”, ressaltou o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão.
Ao analisar dados sobre a presença de estudantes nas aulas remotas, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná afirma que, em média, 10.070 estudantes, ou seja, 1% do total, não está entregando as atividades propostas, sejam elas remotas ou presenciais.
O secretário estadual de Educação Renato Feder diz que o dado é contabilizado por um programa que analisa a entrega das lições de casapelos alunos no Google Classroom.
“O monitoramento é relativamente fácil. A nossa estratégia é feita em cima do Google. São postadas dez tarefas de casa por dia na plataforma. O aluno responde e envia. O próprio sistema informa se o estudante acertou as questões ou não e, com a entrega dos conteúdos, registra a presença do aluno na aula. Esses dados são disponibilizados aos professores, diretores de escolas e núcleos regionais de ensino”, explicou.
Na segunda-feira (6), de acordo com o governo, foram entregues 3,5 milhões de lições de casa pelo Classroom. São dez questões por dia – duas por disciplina – , elaboradas e publicadas pela secretaria.
O secretário Renato Feder contou que são realizadas de 13 mil a 14 mil aulas virtuais por dia, contabilizando 75 mil por semana. Os encontros virtuais são programados pelos próprios professores com alunos de cada turma.
“A adoção do Business Intelligence [BI] e a realização desses encontros virtuais são a essência do sucesso do ensino a distância no Paraná”, destacou Feder.
Professores apontam dificuldades
Professores de diferentes regiões do estado dizem que centenas de estudantes estão sendo prejudicados e não estão acompanhando as aulas. De acordo com o sindicato que representa os professores do Paraná, há relatos de que muitos jovens não têm acesso à internet e nem aos canais digitais. Também há informações de que muitos estudantes não conseguem realizar as atividades impressas porque não sabem o conteúdo.
“Pelo menos 300 mil alunos recebem atividades impressas a cada 15 dias no estado. Esse grupo não tem acesso à internet ou às aulas remotas. Esses dados, disponibilizados pelo próprio governo, revelam que o índice divulgado pela secretaria está distorcido”, afirma o presidente da APP-Sindicato, Hermes Leão.
Segundo a Secretaria de Educação, 11,89% dos alunos usam o material impresso e pouco mais da metade deles tem acesso à internet, mas preferem fazer as atividades em papel. Ainda, conforme o levantamento do governo, 4,89% buscam material imprenso e ao mesmo tempo acompanham os canais de televisão do Aula Paraná. Entre os alunos que optam pelo material impresso, estão aqueles ligados às escolas rurais e escolas do campo, informou a Secretaria de Educação.
A Secretaria de Educação diz que além das atividades impressas, também orientou que as escolas abram os laboratórios de informática para os estudantes que não têm acesso às tecnologias disponíveis.
A APP-Sindicato ressalta que muitos colégios têm internet e laboratórios precários, além de que eles também estão sendo utilizados por professores para gravar aulas e inserir conteúdo nas plataformas.
Há colégios que estão arrecadando celulares ou computadores para os alunos mais carentes.
MP-PR acompanha ensino remoto
Com o intuito de acompanhar o cumprimento das horas obrigatórias do ano letivo, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) afirma ter aberto procedimentos administrativos em Curitiba e no interior do estado.
“Tais procedimentos acompanham as medidas que estão sendo adotadas pelo Governo do Estado e pelos Municípios, a fim de garantir o cumprimento obrigatório das 800 horas-aulas no calendário escolar de 2020, a instituição do ensino não presencial, visando o cumprimento do padrão de qualidade do serviço educacional, bem como as possibilidades de acesso pelos estudantes às metodologias oferecidas”, afirmou o MP-PR.
O MP-PR considera que não há violação ao direito educacional ou qualquer ilegalidade na decisão de se implantar o ensino remoto, contudo, afirmou que acompanha o processo de execução da política pública.
“Avaliamos que será fundamental que, na ocasião do retorno das aulas, seja feita uma ampla avaliação pedagógica do que foi aprendido pelas crianças e adolescentes durante esse período, devendo ser proposto um plano de recuperação voltado tanto aos alunos que não tiveram acesso à metodologia não presencial, como aos que, mesmo tendo acesso ao conteúdo, não conseguiram acompanhar o processo pedagógico”, disse o MP-PR.
Contrato com TV aberta
O secretário Renato Feder alega que a cobertura dos canais digitais, cujo contrato com uma TV aberta gira em torno de R$ 600 mil por mês, aumentou desde o início da adoção das aulas remotas e que o estado não pretende interromper as transmissões tão cedo.
Uma licitação está sendo preparada para contratar ou recontratar o serviço. A expectativa é que o alcance seja ampliado e os custos reduzidos.
“A expectativa é que as aulas presenciais voltem entre agosto e setembro. Quando voltar, a ideia é que o modelo seja híbrido, misturando aulas presenciais e virtuais. O que a gente não quer é ficar repondo aulas aos sábados ou nas férias. Estamos focados em fazer um ensino a distância bem feito”, informou o secretário.
No final deste ano letivo atípico, a secretaria de Educação afirma que os conselhos de classe de cada escola vão analisar como foi o aprendizado de cada estudante e se ele poderá seguir para a próxima série ou se será reprovado.