A não decisão do Conselho Universitário (CUn) de fazer retornar imediatamente as aulas na UFSC, por meio do ensino remoto, é mais uma demonstração de decisões equivocadas e pouco consequentes das autoridades e lideranças da universidade. Aprovar mais uma comissão, com trabalhos encerrando em 15 de julho, para propor uma resolução normativa que defina o modelo e a organização institucional de retomada das atividades de ensino, é exemplo de protelação inaceitável e inconsequente.
A letargia em se organizar a retomada já subtraiu, quase que definitivamente, um tempo precioso à formação de estudantes, com custos às famílias e ao erário público. Com pelo menos um mês e meio de atraso, a correta medida em se organizar comitês e subcomitês envolvendo dirigentes e especialistas produziu bons resultados, mas estes dependem peremptoriamente de ações administrativas para sua implementação.
Com base nas evidências científicas sobre o andamento da pandemia e de exigências sanitárias, indicou-se três fases de retorno: a primeira e imediata é a fase não presencial (portanto, com atividades remotas), a segunda é semipresencial (dependente de melhores condições sanitárias e com seleção de grupos de risco) e a última é a presencial (dependente da vacina). Os desdobramentos acadêmicos desse regime de fases significam adotar princípios: da excepcionalidade; da organização de um calendário acadêmico independente; da temporalidade das atividades não presenciais, da condicionalidade para se efetivar providências; e da autonomia dos colegiados nas decisões.
Portanto, quando chamada, a comunidade universitária respondeu e colaborou positivamente para apontar soluções; o restante é, ou deveria ser, de responsabilidade da reitoria, inclusive de apresentar de imediato uma proposta de resolução ao CUn, em base aos relatórios dos Comitês e Subcomitês. Por que motivo a reitoria não o fez? Os fatos mostram sua ineficiência e conivência com objetivos protelatórios de uma visão populista inconsequente que prolifera na UFSC.
A resposta dos professores ao questionário institucional e no formulário do sindicato indicou, em linha de máxima, a viabilidade do ensino remoto. A dos técnicos foi a justa preocupação sanitária com relação às fases semipresencial e presencial. Quanto aos 36,7 mil alunos, cerca de 21 mil responderam que, com algumas medidas de suporte, existe a possiblidade do ensino remoto. O problema maior é que cerca de 14 mil alunos não foram contatados ou não responderam. Aqui mais uma vez entra a questão temporal tanto para os contatar de outro modo quanto para a reitoria buscar meios materiais e financeiros para minorar os problemas.
A excepcionalidade da situação requer honestidade política e senso de responsabilidade. Nas condições tecnológicas institucionais e individuais pré-existentes, inevitavelmente a adoção do ensino remoto não garante que a totalidade dos alunos irá ter aulas – a maioria sim, vide os questionários. Logo, cabe à reitoria, com apoio de vários setores internos e externos, minimizar os prejuízos e as exclusões. Por exemplo, por meio de resolução normativa que garanta que esses alunos tenham um tratamento excepcional na fase 2 (semipresencial), ou mesmo no andamento da própria fase remota com turmas adicionais, na medida em que os problemas de acesso e equipamentos forem sendo resolvidos – proposta inclusive que apresentamos no Comitê Central à Pró-reitora de Graduação.
Está correta a nota dos estudantes (DCE) apontando a preocupação quanto as exclusões dos alunos das salas de aula virtuais e com a manutenção financeira dos mais carentes durante o período da pandemia. Contudo, a pauta de reivindicações é tão exigente que sua resolução significa a não adoção do ensino remoto em momento algum e, portanto, implica no cancelamento do semestre 2020.1 e provavelmente também o de 2020.2 – considerando que o semipresencial (fase 2) depende do andamento da pandemia e do financiamento para segurança sanitária nos cinco campi da UFSC.
Seguindo linha semelhante, mas com propósito e visão acadêmica mais estreita, é o que está expresso na carta dos “docentes em movimento”, boa parte subscrita por aposentados e ligados a uma entidade docente ilegal. Marcadamente ideológica, exprimem visão que trata o ensino remoto como um mal em si mesmo e descrevem cenários e condições que servem de subterfúgios protelatórios para a resolução dos problemas agora vivenciados. É fácil propor a terceiros que cancelem seis ou doze meses de suas vidas para obter a conclusão de curso. A maioria dos que propõem isso já tem a vida assegurada.
O desalinhamento político e de gestão acadêmica institucional é enorme. A reitoria não define qual visão tem das coisas, não toma providências que os Comitês já indicaram e o CUn avaliza a protelação da retomada das aulas. Enquanto isso, a pós-graduação e o Colégio de Aplicação já aprovaram em suas instâncias deliberativas o retorno às atividades na modalidade de ensino remoto. Portanto, soluções existem, talvez não as ideais, mas boas o suficiente para não ficarmos com o pior: a instituição sem retomar aulas. Uma postura política estreita e por vezes sectárias de lideranças políticas, que se somam à inoperância da reitoria. Algo que custará muito caro à UFSC, à sua imagem, ao apoio social que sempre solicita e aos interesses por seus serviços.
A UFSC tem, infelizmente, uma reitoria que se demonstra incapaz de interpretar a gravidade do momento e de liderar a instituição por um caminho academicamente seguro, administrativamente responsável e socialmente comprometida com as aspirações do povo que nos financia.
Diretoria da Apufsc-Sindical