Seis das principais instituições públicas do país (UnB, UFF, UFRGS, UFRJ, UFMG e Uerj) não têm data para voltar e listam dificuldades com ensino remoto
A pouco mais de um mês do que seria o fim do primeiro período letivo de 2020, universidades federais e estaduais ainda não têm data para a volta às aulas. Seis das principais instituições públicas do país (UnB, UFF, UFRGS, UFRJ, UFMG e Uerj), com cerca de 210 mil estudantes de graduação, estão com as atividades interrompidas desde março.
Sem orientação definida e unificada pelo Ministério da Educação (MEC), a maioria planeja um retorno gradual, no qual o primeiro passo é a adoção do ensino remoto emergencial para as disciplinas teóricas. A dificuldade, no entanto, é incluir digitalmente alunos que não têm acesso regular à conexão de internet.
Nas estaduais de São Paulo, no entanto, essa fase já foi superada, e as aulas estão ocorrendo de forma on-line. A USP, por exemplo, gastou cerca de R$ 1 milhão com mais de dois mil kits de internet, que incluem um chip para celular ou um modem portátil. Eles foram entregues a estudantes com necessidades socioeconômicas.
“Precisamos de 600 chips, mas não temos como financiá-los. Estamos atrás de doadores”, afirmou Rui Oppermann, reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A reitora da UFRJ, Denise Pires de Carvalho, afirmou que prevê a adoção do ensino remoto entre o final de julho e o começo de agosto. No entanto, em torno de 10% a 15%, ou cerca de 10 mil a 15 mil alunos da instituição, contando a pós-graduação, precisarão de ajuda para equipamentos, como notebook ou tablet, e internet banda larga.
“Não temos orçamento para isso. Vamos encaminhar o orçamento para o MEC, porque queremos retomar as atividades mesmo através do ensino remoto emergencial. Não é o ideal, mas não queremos ficar parados e ter o cancelamento do semestre”, afirmou a reitora.
Oppermann diz que há articulações para o MEC abrir um edital voltado para a inclusão digital de universitários sem acesso à internet em casa. Procurado pela reportagem, o ministério não respondeu.
A UFF e a UFMG estão produzindo mapeamentos para identificar a quantidade de alunos sem acesso à internet.
“A desigualdade digital é enorme no país. Fizemos um questionário para saber quais as condições para atividades que possam ser feitas de forma remota. Qualquer decisão tem que levar em conta esse mapeamento”, disse a reitora Sandra Regina Almeida, da UFMG, em live na semana passada.
Já Antonio Claudio Nóbrega, reitor da UFF, afirmou que, além do acesso regular à internet, a instituição planeja estruturar um ambiente seguro do ponto de vista sanitário para que alunos sem condições ideais de estudo em casa possam seguir com as aulas remotas.
“Não basta apenas o acesso (digital). Tem o ambiente da residência do aluno que, muitas vezes, dificulta muito”, afirmou Antonio Nóbrega.
Soluções encontradas
Em São Paulo, a realidade é diferente. A USP e a Unicamp já conseguiram solucionar pelo menos parte da falta de acesso dos seus alunos e estão prosseguindo com o semestre de forma remota.
Na USP, com a compra dos chips e modens, 90% das disciplinas teóricas de graduação na universidade e mais de 900 disciplinas de pós-graduação estão sendo oferecidas de forma on-line.
E a Unicamp entregou aos alunos mais de 500 chips com 10 GB de internet e mil computadores ou tablets. Parte foi comprada pela universidade, que também contou com doações da comunidade acadêmica.
“Temos mais de duas mil bolsas de auxílio transporte, de cerca de R$ 200, que foram transformadas em auxílio de atividades remotas — disse o reitor da universidade, Marcelo Knobel.
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