Diretor de emergências da entidade, Michael Ryan, respondeu perguntas sobre a divulgação de dados pelo Ministério da Saúde
O diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS) Michael Ryan, destacou nesta segunda-feira (8) a necessidade de transparência sobre os dados da pandemia de Covid-19 no Brasil.
Ryan respondeu a uma pergunta feita durante coletiva em Genebra sobre os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde.
No domingo (7), a pasta divulgou dados divergentes sobre a quantidade de mortos e infectados pela doença nas 24 horas anteriores no país. Depois, explicou que os números de Rondônia e Ceará estavam errados.
O diretor de emergências disse esperar que o Brasil continue a relatar “números importantes” – como os casos e as mortes diárias – e divulgue essa informação de forma desagregada (por exemplo, por estado).
“É muito importante, ao mesmo tempo, que as mensagens sobre transparência e divulgação de informações sejam consistentes, e que nós possamos contar com os nossos parceiros no Brasil para fornecer essa informação para nós, mas, mais importante, aos seus cidadãos. Eles precisam saber o que está acontecendo”, destacou Ryan.
O diretor de emergências também afirmou que os dados da pandemia que chegam à OMS estão entre os mais completos e atualizados do mundo.
“Nós temos dados extremamente detalhados do Brasil sobre a epidemia. Na verdade, alguns dos dados que temos do Brasil estão entre os mais detalhados e atualizados do mundo, e nós sinceramente esperamos que isso continue”, declarou Ryan.
“O Brasil é um país muito grande; tem uma população muito diversa; tem populações muito vulneráveis, particularmente em áreas ao redor de áreas urbanas, populações indígenas e outras. Portanto, o Brasil merece nosso apoio total, e nós continuaremos a apoiar o Brasil e sua população na luta contra a Covid”, disse o diretor de emergências.
Situação nas Américas Central e do Sul é a mais complexa, diz diretor
Os especialistas da OMS voltaram a comentar o aumento de casos na América Latina. Ryan disse que a situação da pandemia nas regiões central e sul é “complexa”.
Não é um país, são muitos, muitos países passando por uma epidemia muito severa, com os sistemas de saúde agora sofrendo uma pressão muito forte, leitos de UTI não estando disponíveis em todos os países para lidar com a doença e muito medo e confusão nas comunidades, por motivos diferentes”, explicou Ryan.
“Eu diria que, neste momento, a epidemia na América Central e do Sul é a mais complexa de todas que enfrentamos globalmente”, afirmou o diretor de emergências.
“O que temos visto do México até o Chile é um padrão de aumento em toda a América Latina, com algumas exceções notáveis. Mas eu acho que esta é uma época de grande preocupação, uma época em que precisamos de grande liderança governamental na América Latina. Precisamos de solidariedade internacional forte nos países da América Latina e de liderança de dentro para colocar esta doença sob controle”, declarou.
Ele também destacou o sucesso que os países da região tiveram, ao longo da história, em lidar com doenças infecciosas, como o sarampo e a pólio.
“Foi esse subcontinente que erradicou primeiro os três tipos de pólio. Foi esse continente que conseguiu eliminar o sarampo e ofereceu ao resto do mundo a oportunidade de eliminá-lo – que nós, infelizmente, estamos jogando fora. Foi a região que lidou melhor com a pandemia de cólera que temos no momento, e ainda estamos no meio dela, tecnicamente. Eu acho que precisamos realmente olhar para a liderança nas Américas Central e do Sul”, disse Ryan.
Em março, o Ministério da Saúde anunciou que o Brasil perderia o certificado internacional de erradicação do sarampo após a confirmação de mais um caso da doença, em 23 de fevereiro, no Pará. O país havia conquistado o certificado em 2016, mas, no ano seguinte, foi registrado o menor índice de vacinação para várias doenças, inclusive o sarampo, em 16 anos.