Após “The Lancet” levantar suspeitas sobre estudo que suspendeu pesquisas com o fármaco, autores dizem que não é possível garantir veracidade de dados utilizados
Três dos quatro autores de um estudo alvo de críticas sobre a cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 publicado pela revista científica The Lancet pediram na semana passada a retratação da publicação. Eles argumentaram que não é possível garantir a veracidade dos dados utilizados. Com o pedido, a revista cancelou a validade do artigo.
O pedido de retratação foi apresentado após a The Lancet ter colocado em dúvida o estudo publicado em 22 de maio e anunciado que estava fazendo uma auditoria independente sobre os dados utilizados. A publicação, numa das revistas científicas mais renomadas do mundo, levou à suspensão de ensaios clínicos de hidroxicloroquina e cloroquina em todo o mundo, pois a pesquisa apontava que os medicamentos não seriam benéficos para pacientes hospitalizados com covid-19 e poderiam até ser prejudiciais.
Em nota, a The Lancet diz que os autores pediram a retirada do estudo por não conseguirem “completar uma auditoria independente dos dados que sustentam sua análise” e, desta maneira, concluíram que não podiam mais assegurar a veracidade das fontes.
“Há muitas questões pendentes sobre a empresa Surgisphere e os dados que supostamente foram incluídos neste estudo”, acrescentou a revista.
Os três autores são Mandeep Mehra, do Hospital Brigham de Boston, nos Estados Unidos, Frank Ruschitzka, do Hospital Universitário de Zurique, na Suíça, e Amit Patel, da Universidade de Utah, também nos Estados Unidos. O quarto autor é Sapan Desai, o presidente da Surgisphere. Ele não quis comentar o caso.
O estudo se baseia em dados de 96 mil pacientes hospitalizados entre 20 de dezembro e 14 de abril em 671 hospitais e compara a condição dos doentes que receberam tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina (cerca de 15 mil) com os que não receberam.
Os dados usados são da empresa Surgisphere, que se apresenta como uma empresa de análise de dados em saúde com sede nos Estados Unidos. O jornal britânico The Guardian colocou em dúvida a idoneidade da empresa, que tem apenas uma meia dúzia de funcionários, que aparentam ter pouca experiência científica, e pequena presença online. O dono da Surgisphere, Sapan Desai, é um dos autores do estudo.
Leia na íntegra: Deutsche Welle Brasil