Sem citar nomes, ele alfinetou ministro da Educação, que chamou os integrantes do STF de vagabundos e defendeu a prisão deles
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), voltou a criticar o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Em reunião ministerial de 22 de abril, Weintraub chamou os integrantes do STF de vagabundos e pediu a prisão deles. Em sua primeira entrevista coletiva como presidente do TSE, Barroso foi questionado sobre o vídeo do encontro, do qual participaram o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros.
Sem citar o nome de Weintraub, Barroso disse:
— O vídeo fala por si só e eu não gostaria de comentá-lo. Não é tema específico para um juiz se pronunciar. Pensando do ponto de vista institucional, eu considero que mais grave do que o ataque ao Supremo é o país que não tem projeto adequado para a educação.
Na reunião, Weintraub disse: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF. E é isso que me choca”. O vídeo do encontro foi divulgado na última sexta-feira por ordem do ministro do STF Celso de Mello. No discurso de posse como presidente do TSE, na segunda-feira, Barroso já tinha dito:
— Só quem não soube a sombra não reconhece a luz que é viver em um Estado constitucional de direito, com todas as suas circunstâncias. Nós já percorremos e derrotamos os ciclos do atraso. Hoje, vivemos sob o reinado da Constituição, cujo intérprete final é o Supremo Tribunal Federal. Como qualquer instituição em uma democracia, o Supremo está sujeito à crítica pública e deve estar aberto ao sentimento da sociedade. Cabe lembrar, porém, que o ataque destrutivo às instituições, a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las, já nos trouxe duas longas ditaduras na República.
Depois, também na segunda, afirmou:
— A falta de educação produz vidas menos iluminadas, trabalhadores menos produtivos e um número limitado de pessoas capazes de pensar criativamente um país melhor e maior. A educação, mais que tudo, não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas do mundo. Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência.
O vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, da qual participaram Bolsonaro e seus ministros, faz parte do inquérito aberto na Corte para investigar as acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro. Ele apontou a reunião como uma das provas de que Bolsonaro tentou interferir no trabalho da Polícia Federal (PF). O vídeo foi divulgado quase na íntegra e revelou outros episódios, como as críticas de Weintraub.
No despacho em que liberou a gravação, Celso de Mello disse ter constatado “a ocorrência de aparente prática criminosa, que teria sido cometida pelo Ministro da Educação, Abraham Weintraub”. Também mandou oficiar cada um dos demais ministros da Corte para que “possam, querendo, adotar as medidas que julgarem pertinentes”. Segundo Celso, a declaração do ministro da Educação é uma “gravíssima aleivosia” e “põe em evidência, além do seu destacado grau de incivilidade e de inaceitável grosseria, que tal afirmação configuraria possível delito contra a honra (como o crime de injúria)”.
Leia na íntegra: O Globo