Paulo Guedes esteve com o presidente quase 50% mais vezes do que os responsáveis da Saúde
A agenda pública do presidente Jair Bolsonaro nos dois meses do estado de calamidade pública causado pela covid-19 mostra que o foco na retomada da economia, com as medidas de saúde públicas deixadas em segundo plano, não é mero discurso do presidente. O ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve em 34 reuniões com o presidente no período, quase 50% a mais do que os responsáveis pelo Ministério da Saúde.
Bolsonaro tem sido criticado pela falta de uma política nacional para combater a propagação do vírus. O presidente, que já minimizou os efeitos da covid-19, defende o “isolamento vertical”, apenas da população de risco, e prega a reabertura das empresas para não paralisar a economia. Após pressão pública, ele mudou o mote do governo para “preservar vidas e empregos”, mas mesmo assim manteve poucas reuniões com os ministros da área e nunca chegou a apresentar um plano concreto sobre como esse isolamento funcionaria.
Luiz Henrique Mandetta (DEM), demitido por divergir de Bolsonaro sobre o isolamento social e o uso da cloroquina, foi apenas o 15º ministro na lista dos que mais participaram de reuniões com o presidente, segundo levantamento da E-Relgov, consultoria que analisou a agenda dos últimos 60 dias para direcionar o pleito das empresas no meio político. Entre 20 de março e 16 de abril, foram apenas 13 encontros – os três últimos já com a relação em crise e às vésperas da demissão.
Responsável pela discussão dos planos para salvar as empresas e empregos, o ministro da Economia acompanhou o presidente em 34 compromissos nesses 60 dias. Foram cinco encontros privados com o presidente, videoconferências com empresários e até a polêmica “marcha” ao Supremo Tribunal Federal (STF) para expor divergências em relação às decisões da Corte sobre o isolamento social.
Aliados de Bolsonaro afirmam que o presidente também tratou da covid-19 em encontros que não envolviam os ministros, como com o deputado Osmar Terra (MDB-RS) e a médica Nise Yamaguchi, ambos defensores do uso da cloroquina. Esses aliados reconhecem, contudo, que o presidente acompanhou mais de perto as decisões na área econômica.
Leia na íntegra: Valor Econômico