Por Raul Valentim da Silva
Filósofos gregos nos ensinaram que a felicidade deve ser o propósito maior dos humanos. Sabemos que um dos principais requisitos para alcançar esta almejada felicidade é uma boa saúde física e mental. Hoje estamos em comoção mundial porque um ente, aparentemente insignificante e desprovido de vida, consegue ameaçar a saúde humana em todos os quadrantes da Terra.
Pessoalmente, beirando 81 anos, estou no grupo de risco da Covid-19. Felizmente, não tendo doenças crônicas, poderei evitar complicações adicionais caso meu cuidadoso isolamento não seja suficiente para evitar uma eventual contaminação. Tive a sorte de não adentrar pelo vício do fumo que, na minha juventude, não apresentava o quadro de danosas consequências que bem conhecemos hoje.
Meu irmão caçula, bem mais novo, não teve essa mesma sorte e hoje já não está mais entre nós, tendo sofrido bastante. A inalação dos gases da queima do cigarro envolve cerca de 4000 substâncias, muitas delas altamente prejudiciais. A dependência provocada especialmente pela nicotina agrava seriamente o problema. A OMS estimou que, em 2004, cerca de 5,4 milhões de mortes ocorreram no mundo em decorrência do uso do tabaco.
Os prejuízos decorrentes do cultivo da planta do tabaco não se limitam aos fumantes, bastante afetados pelas doenças respiratórias, como a Covid-19. Os agricultores envolvidos neste cultivo também estão sujeitos a graves problemas de saúde. A planta exige um grande número de aplicações de pesticidas que também prejudicam o meio ambiente. O Brasil é o segundo produtor mundial de tabaco, com uma participação da ordem de 14% em 2017.
Universidades como a UFSC dispõem de um grande cabedal de conhecimentos que precisam ser melhor disseminados, em um Brasil com muitas e sérias carências educacionais. Nossos alunos de graduação, pós-graduação e mesmo de nível fundamental e médio podem ser excelentes disseminadores de informações relevantes para uma significativa melhoria do quadro de saúde na sociedade brasileira. As modernas redes sociais permitem uma ampla e eficaz divulgação de tais conteúdos. Alunos enquadrados como nativos digitais dominam muito bem estas ferramentas.
O exemplo do fumo acima pode e deve ser estendido para outros casos de atividades altamente prejudiciais à saúde da população. A prevenção é sem dúvida o melhor remédio. Através dos sistemas de ensino, em seus vários níveis, temos plenas condições de repassar informações bastante benéficas para as famílias brasileiras. A credibilidade institucional das escolas e universidades pode evitar a disseminação de informações distorcidas, como foi o caso do tabaco no passado.
Precisamos de um esforço organizado e sistêmico para bem selecionar conteúdos e formas de apresentação adequadas para os vários públicos afetados. A nutrição, a educação física, a agronomia, a tecnologia de alimentos e a psicologia são exemplos de áreas que podem contribuir significativamente na deflagração de um processo de conscientização com alta eficácia social.
Muitas vezes, a fragmentação departamental de nossos cursos de graduação, onde está o maior potencial de contribuição, dificulta a organização de um esforço mais efetivo nesses termos e abrangências. Acredito que instituições como a Apufsc, contando com as disponibilidades de uma maioria de aposentados entre seus associados, poderia assumir uma posição de vanguarda em um processo nesses moldes. A colaboração de entidades estudantis como o DCE e a APG certamente seria de grande valia.
Os problemas gerados pela pandemia do coronavírus extrapolam a dimensão da saúde. O Mapa da Fome recentemente divulgado pelo Programa Mundial de Alimentos da ONU estima que 5,4 milhões de brasileiros poderão passar para a extrema pobreza. No âmbito mundial este programa (WFP) prevê que a fome crônica vai alcançar mais 130 milhões de pessoas.
Raul Valentim da Silva é professor aposentado da UFSC
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