Alunos vêm pedindo ao MEC que exame deste ano seja adiado por causa da crise do coronavírus
Nesta segunda-feira (4), o Ministério da Educação (MEC) compartilhou em sua conta oficial do Twitter um vídeo publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) reforçando o calendário do Enem deste ano, que não foi adiado, apesar dos pedidos de alunos e de entidades estudantis. A publicação do vídeo gerou críticas por parte dos estudantes.
Com um texto que diz que “o Brasil não pode parar”, a peça de divulgação afirma que uma geração toda não poderia ser perdida caso o exame fosse adiado – por causa da pandemia do coronavírus -, precisando “ir à luta, se reinventar, superar”.
No vídeo, quatro jovens atores pedem ainda que os secundaristas estudem de “qualquer lugar e de diferentes formas”. A propaganda também informa o período de inscrição para o exame, que é de 11 a 22 de maio.
Na rede social, o assunto Enem foi um dos mais comentados até a noite, sendo a maioria das interações negativas.
“Desprezível por parte do MEC veicularem esse tipo de propaganda, mascarando a realidade e num momento que expõe ainda mais as desigualdades educacionais e de oportunidade do país”, escreveu Kennedy Ribeiro. Já para o professor de História Rafael Duarte, “a propaganda do MEC sobre o Enem é absurda e criminosa. O quarto arrumadinho como cenário, simulando a ideia de que todo e qualquer adolescente possui um computador, internet e um espaço pra si adequado aos estudos, demonstram o quanto o ministro da educação desconhece o Brasil”.
Para o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, o vídeo é um insulto aos estudantes brasileiros. “A própria formação estética do vídeo deixa muito evidente pra que público o MEC está falando, a classe média e alta. Mais uma vez eles desconsideram os estudantes pobres, que nesse momento tem dificuldades de acesso à internet, somados e potencializados por problemas familiares, falta de material didático e várias outras questões que durante a pandemia ressaltam ainda mais a desigualdade social e prejudicam o preparo dessas pessoas para a prova do Enem.”
A estudante Nicole Pedrosa, de 18 anos, do 3º ano do ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa, em Minais Gerais, mostrou indignação. “O que o Inep postou recentemente demonstra o quão longe as autoridades estão da realidade brasileira. Todos os estudantes do vídeo estão em ambientes de estudo com livros e computadores, uma cena totalmente diferente do cotidiano de milhares de estudantes que estão sem aulas e não possuem acesso a internet ou a material didático, sendo um empecilho até mesmo para fazer a inscrição, que acontece exclusivamente online. Além disso, no âmbito da saúde pública, é uma decisão totalmente imprudente manter a data de realização das provas, tendo em vista que causarão aglomerações nos locais onde serão realizadas.”
Leia na íntegra: O Globo