A UFSC no novo normal

Por Armando Lisboa

“Ou inventamos ou erramos” (Simón Rodríguez)

Colegas,

Li e assisti atentamente todas as “medidas para nortear o retorno às atividades” divulgadas pela Reitoria/UFSC a partir desta segunda-feira, 04/05/2020, as quais se pautam pelo documento divulgado em 29/4/2020 denominado “Premissas e propostas para a retomada das atividades na UFSC”.

Com a pandemia, por muito tempo conviveremos com um inimigo invisível que ameaça gravemente nossas vidas. Como o risco do contágio sempre será elevado em qualquer atividade com aglomeração de pessoas, um “novo normal” se impõe, ordenando o máximo de cautela na retomada da academia. Ora, isto dificulta imensamente a retomada de atividades presenciais de ensino.

O prof. Oscar Bruna-Romero, membro da comissão científica da Reitoria que vem dando apoio epidemiológico para guiar e fundamentar os posicionamentos de nossa universidade, é claro em suas manifestações divulgadas junto com estas “medidas”.

Ele afirma que “não sabemos qual é o momento adequado para o retorno”, e que “não retornaremos à níveis seguros em quatro ou seis meses”. Assim, “temos de considerar uma temporalidade extensa” para a data de retorno das atividades. Esta difícil situação talvez se reapresente intermitentemente e se prorrogue por muito tempo, pois “a pandemia pode retornar em vários episódios nos próximos dois ou três anos”. Isto prolonga as restrições ao convívio social e manutenção do isolamento social exigidas para evitar o agravamento do cenário.

Esta realidade deveria catapultar imediatamente as formas de “ensino remoto”, ambiente que a UFSC domina com maestria em diversos âmbitos, especialmente na oferta de cursos de EaD.

Infelizmente, aqueles documentos não preparam a UFSC para esta possibilidade, pois todo o foco das “medidas” incide exclusivamente no “retorno das atividades presenciais”. Apenas muito remotamente se pontua de forma breve que “caso seja necessário adotar medidas de ensino/trabalho remoto, será preciso verificar a capacidade necessária para atendimento à comunidade universitária nas condições de retorno propostas”(in “Premissas”).  

Colegas, urge nos reinventarmos. Não será socialmente aceitável cancelar o semestre, ou que continuemos a cada mês prorrogando a “suspensão das atividades” até voltar as condições mínimas de convivência – o que poderá nos levar até o final de 2020, no mínimo. Tampouco as atividades de ensino poderão voltar intempestivamente, pois, como lugar de grande circulação de pessoas, seremos sempre um crucial vetor de difusão pandêmico, o que não será admissível.

Ou seja: cabe implementar o mais breve possível o “ensino a distância” para retomar e completar o semestre letivo no grande conjunto de disciplinas onde isto é possível; e, junto ao pequeno grupo que exige alguma forma de atividade presencial (laboratórios …), adotar outras alternativas, como a do 1/3 proposto naqueles documentos. Isto exigirá preparativos, remanejamento de recursos e adequações, exatamente como já o fizeram praticamente todas as demais instituições de ensino superior não estatais, e algumas poucas IFES (ITA, UFSM). Urge quebrar a inércia que nos imobiliza. Caso contrário, sofreremos gravíssimas consequências que não ficarão restritas ao campo salarial, mas corroerão a própria legitimidade da universidade pública.

Professor do CNM/UFSC

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