Na universidade, há o caso de um professor que perdeu até R$ 95 mil com a fraude; pesquisadores de outras instituições federais também foram vítimas de clonagem
Cartões vinculados ao Print (Programa Institucional de Internacionalização), da Capes, foram clonados nos últimos meses e usados para gastos ilegais feitos por terceiros, principalmente fora do País. Na UFSC, dos 27 coordenadores do Print que usam o cartão, 20 detectaram a fraude nesta semana.
“Isso é gravíssimo. Estamos em contato com a Capes e com a Procuradoria da UFSC para acionar a Polícia Federal”, diz a pró-reitora de Pós-Graduação Cristiane Derani. “Ficamos sabendo há poucos dias, por acaso. Uma professora tirou um extrato, por zelo, e percebeu compras que não tinha feito.”
O cartão funciona como um cartão corporativo, que recebe um crédito da Capes e é gerenciado pelo Banco do Brasil. Mas, diferente de um cartão de crédito normal, não é possível acessar a conta, o saldo, nem o extrato pela internet, apenas presencialmente na agência, o que torna difícil acompanhar as movimentações.
O professor Daniel Martins, do CTC, foi atrás dos extratos nesta semana depois que soube das denúncias. Descobriu centenas de gastos inferiores a R$ 500 realizados entre 24 e 27 de fevereiro no valor total de R$ 95.361. “Zeraram o meu cartão”, conta. “Gastaram em quatro dias o que eu tinha para usar ao longo de dois anos.” O professor Ricardo Rabelo, também do CTC, registrou compras ilegais de US$ 6 mil, boa parte com compra de bebidas e comidas no exterior. “No meu caso, foram seis lançamentos bem no início de abril.”
A orientação da Pró-Reitoria de Pesquisa é para que os pesquisadores verifiquem seus extratos atualizados e em caso de movimentação suspeita, façam o bloqueio preventivo do cartão no Banco do Brasil (telefone 4003 0107). Outro procedimento necessário é o registro do Boletim de Ocorrência pelo link: https://delegaciavirtual.sc.gov.br/inicio.aspx. Além de comunicar o CNPq, Capes e a Propesq ([email protected]).
Nesta quarta-feira, dia 29, a Folha de S. Paulo publicou uma reportagem sobre a fraude em que aponta casos na UFPR e na UFABC. Questionada, a Capes afirmou que “não foi constatado uso indevido dos cartões” e que se trata de “de possível fraude provocada por terceiros, como clonagem”.
Ao menos 10 das 36 instituições participantes do Print perceberam movimentações irregulares nos cartões. Os pesquisadores foram orientados a registrar Boletim de Ocorrência e entrar em contato com o Banco do Brasil.
Na Federal do Paraná, por exemplo, compras irregulares registradas no cartão vinculado à pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa chegaram a R$ 5 mil. Há gastos em lojas de vestuário e em grandes magazines. A universidade tem 16 cartões BB Pesquisa.
A Capes afirmou em nota que identificou clonagem em 43 “de um universo de 5.363 cartões”. O órgão, ligado ao MEC (Ministério da Educação), não informou quantas instituições foram atingidas e qual o volume total dos desvios ilegais.
Além de ressaltar que não houve uso indevido, a Capes disse que não houve prejuízo para bolsistas ou para o próprio órgão.”A coordenação já fez contatos com os beneficiários e o Banco do Brasil, que fará os procedimentos habituais para esse tipo de fraude”, afirmou em nota.
Os coordenadores foram orientados a entrar em contato com o banco para contestar os gastos e solicitar os bloqueios. “A responsabilidade pelo estorno é da bandeira do cartão e o saldo é recomposto pelo banco”, disse a Capes.
Em nota, o BB afirmou que apura os fatos e trata o tema com prioridade. “Os valores estão sendo devidamente regularizados junto à Capes”, disse a instituição. O banco afirmou que “seus cartões possuem soluções de segurança entre as melhores do mercado”.
Imprensa Apufsc