Em entrevista ao Estadão, Pedro Hallal disse que relaxar o distanciamento social significa um retrocesso no combate ao coronavírus
O epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, afirma que o Brasil ainda não está pronto para sair do isolamento social. Em entrevista ao vivo transmitida pelo Estadão nas redes sociais, o especialista disse que o País ainda está no estágio inicial da doença e que não há previsão para a volta à normalidade, principalmente de escolas e faculdades. Hallal é também o coordenador de uma grande pesquisa que tem como objetivo apontar o número real de casos de coronavírus no Brasil.
Para ele, o Brasil acertou em começar o distanciamento social antes da explosão do número de casos, o que pode ser arruinado agora com a volta precoce. Repetindo o que muitos cientistas têm dito, avisou que é importante manter as medidas para que os hospitais consigam se estruturar para receber os pacientes da covid-19. “É mais importante olhar para o limite do sistema de saúde do que para o número de mortos ou de casos”, disse, referindo-se a critérios para definir níveis de isolamento social.
Nesta semana, sete estados e o Distrito Federal começaram a relaxar o distanciamento e a permitir, por exemplo, a reabertura de comércios e serviços não essenciais. Para o epidemiologista, a pressa dos governos em relaxar as medidas de isolamento têm a ver com uma “falsa dicotomia entre economia e saúde pública”.
Hallal explicou na entrevista que o guia da Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece seis requisitos para o fim do isolamento social e que o Brasil não cumpriu ainda a maior parte deles. Um deles é o controle da transmissão do coronavírus, que não está controlada no País. O segundo item é ter a capacidade de testar, tratar e isolar os pacientes e seus familiares, também não cumprido.
O terceiro requisito é o de ter preparados os locais de trabalho e as escolas para evitar o contágio. “Não temos um plano pronto sobre isso”, afirmou. O quarto ponto é conseguir controlar o surto em locais específicos, como hospitais. “Não conseguimos. Muitos profissionais de saúde ainda estão se contaminando”, disse, citando também a falta de equipamentos de proteção individual. “Não é hora de pensar em aliviar as medidas de isolamento”, conclui.
Para o pesquisador, se o governo não garante renda complementar para a população fazer o isolamento, acaba pressionando as pessoas a solicitarem a reabertura das atividades. “Se as pessoas não estão fazendo o que é recomendado é porque o estado brasileiro não está cumprindo o seu papel”, afirmou, acrescentando que a responsabilidade não é apenas do governo federal, mas também dos estados e municípios.
Hallal falou que ainda não há previsão para a volta à normalidade, mas adiantou que, por critérios científicos, os estabelecimentos de ensino devem ser a última coisa a reabrir. Um dos motivos para isso é a característica da composição familiar brasileira, onde muitas crianças vivem com pessoas do grupo de risco, como seus avós.
As universidades também devem demorar a retomar o funcionamento. Além da aglomeração nos campi e do aumento no movimento das cidades, as instituições de ensino superior têm muitos alunos oriundos de outros estados ou municípios. “Podemos ter uma importação e exportação de casos muito grande”, analisa.
Para o pesquisador, se o governo não garante renda complementar para a população fazer o isolamento, acaba pressionando as pessoas a solicitarem a reabertura das atividades. “Se as pessoas não estão fazendo o que é recomendado é porque o estado brasileiro não está cumprindo o seu papel”, afirmou, acrescentando que a responsabilidade não é apenas do governo federal, mas também dos estados e municípios.
Confira o vídeo da entrevista.
Fonte: Estadão