Apoiador de Bolsonaro, Marcelo Recktenvald tem criticado nas redes sociais a não utilização da cloroquina no tratamento da doença
O reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Marcelo Recktenvald, tem usado suas redes sociais para apoiar o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no combate à Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
Nesta semana, servidores da instituição divulgaram uma nota em que demonstram preocupação com a influência das publicações do reitor sobre a comunidade em geral. Reforçam ainda que, por sua função, a imagem de Recktenvald é inevitavelmente vinculada à UFFS, o que pode provocar dúvidas quanto às orientações da ciência e Organização Mundial de Saúde (OMS), assim como “macular a imagem da UFFS como instituição científica”.
Os medicamentos, usados contra a malária e doenças autoimunes, vêm sendo testados ao redor do mundo. Ainda assim, conforme publicado pelo Ministério da Saúde, a orientação da OMS é o “uso do medicamento como opção para quadros graves (pacientes hospitalizados com pneumonia viral)”, restringindo-se a casos confirmados, conforme a orientação médica e em conjunto com outras medidas de suporte.
Estudos com cloroquina e hidroxicloroquina ainda não foram concluídos, ainda que promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro como um potencial tratamento para a Covid-19. Em Manaus, um estudo foi interrompido por aumentar as complicações cardíacas de pacientes, por exemplo. E nos Estados Unidos, uma outra pesquisa demonstrou a ineficácia dos medicamentos. Mesmo assim, Marcelo Recktenvald repostou tuítes como “O “problema” da hidroxicloroquina é que ela cura o paciente, mas mata a narrativa. Entendeu? Pois é.”. O reitor replicou ainda um tweet de Ailton Benedito, procurador da República.
Desde o dia 18 de abril, as publicações à favor do uso de tais medicamentos têm se intercalado com publicações em apoio a Bolsonaro. As hashtags “#ForaMaia” e “#ForaDoriaDitador” foram usadas por Recktenvald. O presidente da Câmara e o governador de São Paulo vêm protagonizando atritos com Bolsonaro durante a pandemia.
No ano passado, Marcelo Recktenvald foi o terceiro colocado na lista tríplice da UFFS e, ainda assim, foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro. A posse gerou uma série de protestos na universidade. No campus de Chapecó, os alunos ocuparam a reitoria por 20 dias.
Nota de professores, pesquisadores e técnicos administrativos da UFFS
Mais de 100 pessoas da comunidade acadêmica assinaram uma nota de esclarecimento criticando o posicionamento do reitor de sua universidade, Marcelo Recktenvald. “Mesmo ponderando se tratar de um perfil pessoal, nós, servidores abaixo assinados da UFFS, vemos com imensa preocupação essas postagens. Colocar em contradição o que a ciência e a OMS preconizam significa colocar em risco a vida humana e a capacidade de atendimento das nossas unidades de saúde”, dizem em nota.
.“Assim sendo, entendemos que, como professores, pesquisadores e técnicos administrativos em educação, temos a obrigação de informar à região de abrangência da UFFS que as postagens pessoais do reitor acerca da atual pandemia não representam o entendimento da comunidade acadêmica, tampouco estão pautadas em conhecimento científico.”
Ao fim do documento, os signatários sugeriram 20 dos 4.882 artigos científicos sobre Covid-19 e o vírus SARS-CoV-2, publicados na mais respeitada plataforma de periódicos biomédicos do mundo (PubMed – vinculado a US National Library of Medicine, National Center for Biotechnology Information e National Institutes of Health).