Epidemiologistas, geógrafos e estatísticos do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) elaboraram análises sobre a situação no país
As mortes provocadas por Covid-19 têm dobrado, em média, num intervalo de cinco dias no Brasil. Nos Estados Unidos e no Equador, países com taxas altas de disseminação da epidemia, o intervalo para essa duplicação, em período similar, seria de seis dias. Na Itália e na Espanha, oito.
Este é um dos dados divulgados na mais recente nota técnica do MonitoraCovid-19, sistema que agrupa e integra dados sobre a pandemia do novo coronavírus no Brasil. Epidemiologistas, geógrafos e estatísticos do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz) têm se debruçado sobre a ferramenta para elaborar análises sobre o avanço da doença.
Observando o crescimento diário dos casos de Covid-19 nas semanas de 29 de março a 4 de abril; 5 a 11 de abril; e 12 a 16 de abril, os cientistas apontam que a pandemia segue com alto crescimento no número de casos na região Norte, marcadamente no estado de Rondônia, e no Nordeste, onde se destacam os estados do Piauí, Alagoas e Ceará. Também é preocupante a situação dos estados do Pará, Amapá, Maranhão e Pernambuco, que seguem com tendência de crescimento acelerado no número de casos.
Por outro lado, houve uma aparente tendência à desaceleração do crescimento no número de casos em boa parte das unidades federativas do país, principalmente nas regiões Sudeste e Sul. Esse decréscimo tem relação com as medidas de isolamento social, “dado que a comparação com outros países torna evidente comportamento similar em várias partes do mundo”. No entanto, o número de casos seria um dado mais impreciso do que o de óbitos.
“Os dados de óbitos são mais confiáveis do que os dados de casos para medir o avanço da epidemia”, esclarece o epidemiologista Diego Xavier, pesquisador do Laboratório de Informação em Saúde do Icict/Fiocruz. “Isso porque, no caso do óbito, mesmo o diagnóstico que não foi feito durante a evolução clínica do paciente pode ser investigado. Além disso, a situação clínica do paciente que vem a óbito é mais evidente, quando comparada aos casos que podem ser assintomáticos e leves”.
Interiorização
A nota técnica também alerta para a interiorização da epidemia, que está chegando de forma acelerada aos municípios de menor porte do país. Dentre os municípios com mais de 500 mil habitantes, todos já apresentam casos da doença. Naqueles com população entre 50 mil e 100 mil habitantes, 59,6% têm casos. Já 25,8% dos municípios com população entre 20 mil e 50 mil, 11,1% daqueles com população entre 10 mil e 20 mil habitantes e 4,1% dos municípios com população até 10 mil habitantes apresentam casos de Covid-19.
“O que mais preocupa com relação à propagação da doença no país diz respeito a dois aspectos. Primeiramente, o tempo de recuperação lento associado à alta taxa de contaminação tem ocupado leitos das grandes cidades, e pode provocar colapso do sistema de saúde nessas cidades. Em segundo lugar, à medida que a doença avança para o interior e atinge cidades menores, a demanda por serviços mais especializados de saúde, como UTI e respiradores, também cresce. Só que esses municípios menores, em sua maioria, não detêm esses recursos de saúde, então terão que enviar seus pacientes a centros maiores, que já apresentam leitos, equipamentos e pessoal de saúde em situação difícil”, alerta Xavier.
Acesse a nota técnica.