“As manifestações do ministro Abraham Weintraub revelam, mais uma vez, a obsessão pelo confronto ideológico acima da política pública”, ressalta o jornal no editorial deste domingo (19)
O ministro Abraham Weintraub reforçou em suas redes sociais neste sábado (18) que manterá a data do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O posicionamento vai contra a determinação da Justiça Federal de São Paulo que defere o adiamento do exame. Assinada pela juíza Marisa Claudia Gonçalves Cucio, da 12ª Vara Cível, a decisão estende ainda o prazo de solicitação de isenção da taxa de inscrição por mais 15 dias.
Em editorial publicado neste domingo (19), a Folha de São Paulo criticou as declarações do ministro da Educação, reforçando que alunos da rede pública têm desvantagem maior com a interrupção das aulas presenciais. Apesar de Weintraub afirmar que a “quarentena acaba em semanas”, ainda não há uma data definida. Em Santa Catarina, por exemplo, instituições de ensino devem permanecer fechadas ao menos até 31 de maio. São mais de dois meses fora da escola.
Confira um trecho do editorial:
“A esta altura, com a epidemia de Covid-19 ainda grassando pelo país, parece inevitável que a suspensão das aulas presenciais, prestes a completar um mês e sem data para terminar, tenha impacto significativo sobre o calendário escolar.
Nesse sentido, merece especial consideração o Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem, hoje o principal meio de acesso às universidades federais. Não à toa, entidades como o Conselho Nacional dos Secretários de Educação e a Defensoria Pública da União, vêm advogando pelo adiamento do teste.
Trata-se, com efeito, de proposta que deveria ser acatada pelo Ministério da Educação. Afinal, a crise tende a afetar desproporcionalmente os estudantes mais pobres, bem como aumentar o fosso que separa as redes privada e pública (onde estudam mais de 80% dos alunos de ensino médio do país).
Enquanto estudantes do primeiro grupo seguem, bem ou mal, tendo aulas por meios virtuais, mantendo assim algum tipo de rotina escolar, os do segundo têm permanecido, na imensa maioria, sem instrução ou acompanhamento.
Isso se deve não apenas à precariedade geral dos colégios públicos, que os impede de prover esse tipo de acesso remoto. Uma parcela grande de famílias não dispõe de aparelhos eletrônicos que permitam aos mais jovens acessar o conteúdo didático a distância.
Ademais, cerca de um terço dos brasileiros nem mesmo possui acesso à internet, caso também de 43% das escolas rurais do país.
A despeito do evidente prejuízo a uma legião de estudantes, e consequente aumento da desigualdade entre os candidatos, o MEC tem-se mantido irredutível no propósito de não alterar as datas do exame.
As manifestações do ministro Abraham Weintraub, atribuindo os pedidos de adiamento a partidos de esquerda e afirmando que o coronavírus “atrapalha todo mundo”, revelam, mais uma vez, a obsessão pelo confronto ideológico acima da política pública.”
Leia na íntegra: Editorial “Adiar o Enem” da Folha