Por Armando de Melo Lisboa
As decisões do Governo de SC demonstram que nosso Estado está em outro planeta.
Ao entrarmos na 3ª semana de “isolamento”, já se flexibiliza-o, como se tivéssemos ultrapassado a pior fase da peste. Estamos relaxando as medidas de distanciamento, mas recém ingressamos nas mesmas e ainda nos primeiros momentos da pandemia.
No mundo real, uma situação calamitosa se aproxima. Trump já a admitiu nos EUA, mesmo com navios hospitais e tudo que lá podem mobilizar.
O estudo da Fiocruz e FGV é claro: uma segunda e maior onda atingirá todo país (1). O terremoto em curso no Rio e Sampa atingirá a todos.
Apesar dos claros posicionamentos do Ministro da Saúde e da OMS, o Governo de SC, como um avestruz, teima em ignorar todos esses alertas: o isolamento radical é a única defesa que temos nesta guerra da humanidade contra este vírus.
Nesta guerra, talvez o maior desafio da humanidade de todos os tempos, a importância da ciência é fulcral. Minimizá-la apenas agigantará os números de mortes, que poderiam ser evitadas com o uso da inteligência disponível, nosso principal recurso.
O Governador de SC acercou-se de um “Comitê gestor de crise”. Dele não participam membros das universidades ou da comunidade científica catarinense.
As principais decisões, como a do “Plano Estratégico” para a retomada das atividades econômicas em SC, anunciado em 26/03 (quando completávamos a 1ª semana de “isolamento”), advém do “grupo econômico” que assessora aquele Comitê.
Não temos a presença de experientes profissionais da saúde ou de autoridades em infectologia neste “Comitê gestor”.
Qualquer estratégia de enfrentamento da Covid-19 requer posições científicas fundamentadas, exige antevisão clara dos quadros epidemiológicos possíveis.
Apenas a partir do último dia 2/4, nosso governo divulgou medidas razoáveis para a ampliação da nossa capacidade hospitalar, projetando “até o fim de maio … um aumento de aproximadamente 90%” os leitos de UTI (2). Tardiamente, começou a dar sinais de preparar SC para enfrentar o coronavírus, admitindo agora “a possibilidade de montar hospitais de campanha” (3).
O relaxamento do distanciamento cobrará um enorme e macabro preço. Não apenas em vidas, pois também agigantará mais a frente o colapso econômico.
Após o pedido de desculpas do Prefeito de Milão, não se admitirá que aqui perfaçamos o mesmo caminho errático.
Ou seja, desculpas aqui serão ofensivas e inaceitáveis.
A postura do governo de SC não é um caso de um erro de avaliação, mas criminosa, e ela será devidamente penalizada.
E não apenas o Governador, pois parte da sua equipe é cúmplice.
Prof. Armando de Melo Lisboa (UFSC)
- https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/04/01/coronavirus-projecao-indica-que-havera-segunda-onda-da-epidemia-no-brasil.htm
- https://www.sc.gov.br/noticias/temas/coronavirus/coronavirus-em-sc-governo-do-estado-encaminha-compra-de-equipamentos-destinados-a-hospitais
- https://ndmais.com.br/noticias/precisamos-de-acao-imediata-do-governo-federal-diz-governador-carlos-moises/