Em tempos de isolamento social, é preciso pensar em soluções excepcionais
O isolamento dos que podem ficar em casa como medida contra a propagação do novo coronavírus, a população idosa — grupo de risco da Covid-19 — enfrenta dificuldades para agendar consultas médicas e pegar receitas de medicamentos controlados. A interrupção do uso de remédios pode agravar problemas de saúde.
“A ausência dos medicamentos pode levar à descompensação de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, por exemplo, que conferem maior risco de Covid-19”, afirma a médica Rachel Rosado.
A aposentada Maria Coeli, de 80 anos, trata de depressão crônica e não consegue falar com a médica para buscar receita. “Esgotei todas as possibilidades de contato, não tenho o telefone pessoal da médica. Meu plano de saúde recomendou mudar de profissional, mas em meio à pandemia não tenho condições de procurar atendimento presencial”, diz.
O Ministério da Saúde orienta que, caso as consultas não graves nos centros de referência sejam canceladas ou adiadas devido à pandemia, o gestor local deve adotar estratégias para continuar monitorando pacientes, mesmo à distância.
O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Carlos André Uehara, afirma que o uso da tecnologia pelos médicos é o caminho mais eficaz para manter o atendimento durante a pandemia:
“Em tempos diferentes, precisamos pensar em soluções excepcionais. Isso inclui a relação médico e paciente. Uma alternativa é o teleatendimento, que assegura a saúde do profissional de saúde e do idoso”, afirmou.
Com a receita em mãos, os idosos devem se preservar. Se possível, pedir para amigos ou parentes buscarem o medicamento nas farmácias ou optar pelos serviços de entrega. Caso seja impreterível a ida, optar por horários especiais e exclusivos que algumas grandes redes de drogarias estão oferecendo.
O Ministério da Saúde adotou, em caráter excepcional e temporário, medidas diferenciadas para a população ter acesso a medicamentos do Programa da Farmácia Popular. Os pacientes passaram a retirar o quantitativo suficiente para realizar o tratamento por até 90 dias, ficando dispensados de voltar à farmácia por até três meses.
EM CASA, MAS sem parar
Para manter a saúde em casa e que o tempo seja mais prazeroso, a dica é não se manter parado. Por enquanto, é bom evitar qualquer exercício ao ar livre, mas lembrar de se mexer dentro de casa é importante. Segundo o educador físico Diogo Fernandes, além de manter o fortalecimento físico, a prática de exercícios fortalece a imunidade e libera hormônios que aumentam a sensação de bem estar e ajudam no combate a ansiedade.
Nesse momento, é preciso também que as famílias se mobilizem e incluam o idoso nas atividades cotidianas.
“É difícil para qualquer pessoa passar por esse período, não só pela ansiedade, mas pela solidão e medo da própria doença. Mas é preciso reforçar: esta é uma situação temporária”, comenta a geriatra Patricia Ledo.
Ficar em casa tem sido um desafio para os idosos mas, segundo especialistas, não se trata apenas de teimosia.
“Ao envelhecer, perdemos certa autonomia física, muitas coisas que conseguíamos fazer com facilidade passam a ser difíceis ou não recomendadas. Reafirmar a vontade e o direito de ir e vir é uma forma de reforçar a autoridade sobre sua própria vida”, afirma a terapeuta Vanessa Benaderet.
Entre as recomendações, estão a prática de exercícios físicos, contato frequente com familiares e amigos por telefone, por exemplo, e a adesão a um novo hobby. Para a família, dentre outras ações, recomenda-se a inclusão do idoso na rotina e apoio à retomada de hábitos como ouvir música – que traz importantes benefícios para saúde mental.
A reportagem contou com o apoio de Maísa Kairalla, geriatra e presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Patricia Ledo, geriatra e assessora técnica da Saúde do Adulto e Idoso de Jundiaí (SP) e Vanessa Benaderet, doutora em Psicologia.
Leia na íntegra: O Globo