Frei carmelita, praticante budista, babalaô e professora cabalista dão exemplos ao Globo de como lidar com a reclusão de uma forma positiva
Desde o início da epidemia do novo coronavírus, os brasileiros têm se deparado com uma nova realidade: quarentena e reclusão preventiva para que os casos de Covid-19 não se alastrem mais. Como não é todo mundo que está acostumado a ficar restrito a apenas sua casa, isso pode gerar ansiedade, tristeza e ânsias diversas. Porém, há pessoas que já costumam fazer esse recolhimento naturalmente antes deste momento emergencial, seja ele permanente ou parcial, e que tem muito a ensinar a quem está sofrendo por ficar este tempo em casa.
Esta é a realidade dos freis carmelitas, por exemplo. Na ordem há 17 anos, o frei Adaílson Quintino dos Santos é natural da zona rural de Alagoas e entrou na ordem aos 17 anos. Eles têm uma vida que chamam de “contemplativa na ação”: não são monásticos como os irmãos beneditinos e as irmãs carmelitas e clarissas, mas também seguem uma rotina de reclusão social durante o cotidiano de orações. Adaílson viu a preocupação com a pandemia chegar aos poucos entre os fiéis, que foram tomados pela apreensão de ficar em casa e não poderem mais acompanhar as missas presencialmente.
— A vida das pessoas é marcada por ritmos. Quando ele é quebrado, isso gera grandes questionamentos. A comunidade está passando por um processo de transformação muito grande e os fiéis procuram em nós um conforto espiritual. Conforto que precisamos passar remotamente pelas mídias sociais — disse o frei, que aconselha os fiéis a passarem o momento de uma forma serena e produtiva:
— São João da Cruz diz que não existe noite escura que não venha o raiar de um novo dia. Nós vamos passar por essa situação. Faça desse espaço um ambiente onde você encontre sentido para a sua vida. Procure também meditar por, pelo menos, 10 minutos por dia. Esse caos vai servir para retirar os elementos para a cura da nossa sociedade.
Dar sentido à vida e focar no pensamento positivo também tem sido um norte para os praticantes do budismo. A gerente de relações públicas Silvana Vicente, que faz parte da associação Brasil Soka Gakkai Internacional, é adepta da filosofia há 45 anos e aprendeu, desde criança, a encarar os desafios da vida através dela. Silvana acredita que a onda de pessimismo, que possa vir neste momento seja até natural, mas que é passível de transformação através das redes de pessoas que se conectam pelos mantras:
— Nós acreditamos que o fato de estarmos participando deste momento de reclusão tem nos dado a oportunidade de nos voltar ao nosso eu interior parar levar nossa expressão de esperança. Quando faço meu mantra, me uno a uma rede de solidariedade invisível. Isso é muito encorajador.
Os adeptos das religiões de matriz africana que, principalmente, no rito iniciático, precisam estar reclusos, também tem estratégias interessantes para superar e passar o momento de clausura coletiva. O babalaô Ivanir dos Santos, que tem liderado uma reza para Obaluaê — o orixá da cura — toda segunda-feira, disse que a reclusão é algo com que o candomblecista precisa lidar, naturalmente, durante toda a sua vida.
Leia na íntegra: O Globo