Espanha e EUA resgatam tratamento de um século atrás: a transfusão direta de plasma de pessoas recuperadas da infecção
As autoridades sanitárias madrilenhas, em meio a um colapso dos hospitais por causa da peste do novo coronavírus, começaram a procurar pessoas que tenham superado a enfermidade para lhes pedir que doem seu sangue, a fim de obterem um “plasma hiperimune” que sirva para tratar os pacientes mais graves. O objetivo é começar as extrações o quanto antes, “em alguns dias ou semanas”, segundo uma porta-voz do Centro de Transfusão da Comunidade de Madri, a região espanhola onde fica a capital. Os doadores devem ser menores de 60 anos e ter um bom estado de saúde.
O imunologista Arturo Casadevall está desde o final de janeiro se desdobrando para recordar à comunidade científica internacional a opção do sangue das pessoas convalescentes. É uma estratégia tão velha que já foi usada na pandemia de gripe de 1918, quando um vírus desconhecido se propagou pelo planeta e matou 50 milhões de pessoas, mais que o dobro da Primeira Guerra Mundial, que acaba naquele ano. Os precários ensaios clínicos da época, com plasma sanguíneo de sobreviventes, conseguiram reduzir pela metade a letalidade do vírus.
Nesta terça-feira, a FDA, órgão federal que regulamenta alimentos e medicamentos nos EUA, autorizou o uso destas transfusões experimentais em pacientes graves.
“Quando a situação começou a piorar, ficou claro que valia a pena tentar. Tudo foi muito rápido”, diz Casadevall por videoconferência. Nova York é o lugar do mundo com a tendência mais preocupante: o número de mortos pela Covid-19 dobra a cada dois dias. Dois hospitais nova-iorquinos ― o Mount Sinai e o da Escola de Medicina Albert Einstein― começarão a semana que vem a testar estas transfusões.
“Embora promissor, o plasma de pessoas recuperadas não demonstrou ser efetivo em todas as doenças estudadas”, adverte a FDA. Casadevall acredita que alguns desses fracassos do passado se devem a que foram tratamentos experimentais, feitos de forma desesperada. “Quando se recorre ao plasma de pessoas convalescentes, frequentemente ele é utilizado muito tarde”, lamenta Casadevall, recordando que a China já anunciou há um mês que tinha começado um ensaio clínico com plasma de doadores que superaram a Covid-19. “Os chineses falam de bons resultados preliminares, mas ainda não há dados definitivos”, observa o imunologista.
Leia na íntegra: El País