Sem apresentar evidências, presidente afirma que muita gente no país já foi contaminada pelo vírus e desenvolveu anticorpos
O presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar nesta quinta-feira (26) a pandemia do coronavírus e afirmou que o contágio no Brasil não será como nos Estados Unidos porque não acontece nada com o brasileiro.
Bolsonaro é alvo há dez dias seguidos de panelaços em grandes cidades devido ao menosprezo pela pandemia, que já matou 77 pessoas no Brasil —20 delas somente nesta quinta. Até o momento, 2.915 casos foram confirmados no país.
Ao redobrar a aposta nesta semana e minimizar seguidamente a crise do coronavírus, o presidente se isolou politicamente, ganhando a oposição aberta de antigos aliados —como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM)— e críticas generalizadas no Congresso, além de ter seus pedidos ignorados pelos chefes estaduais.
Já bolsonaristas que concordam com o presidente convocaram protestos e carreatas pedindo a reabertura dos comércios e quarentena apenas para idosos. O presidente compartilhou um vídeo na noite desta quinta em suas redes sociais com a frase “O povo quer trabalhar”. Nas imagens, carros faziam uma carreata e buzinavam em Balneário Camboriú (SC).
Mais cedo, na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente defendeu que o brasileiro seja estudado porque, segundo ele, mergulha no esgoto e não pega nenhuma doença.
“Eu acho que não vai chegar a esse ponto [dos Estados Unidos]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali. Ele sai, mergulha e não acontece nada com ele.”
Nesta quinta-feira os Estados Unidos ultrapassaram a China e se tornaram o país com o maior número de casos confirmados da doença: 83.507. A contagem de mortos chegou a 1.201.
“Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil há poucas semanas ou meses. E eles já tem anticorpos que ajuda a não proliferar isso daí. Estou esperançoso que isso seja realmente uma realidade”, disse Bolsonaro.
Logo depois, em sua transmissão semanal ao vivo pela internet, voltou a menosprezar o coronavírus. “Este vírus é igual uma chuva —fechou o tempo, trovoada—, você vai se molhar, e vamos tocar o barco”, afirmou.
Bolsonaro fez a live segurando duas caixas de hidroxicloroquina, medicamento estudado como possível solução à Covid-19. Em determinado momento, ele disse que poderia doar as caixas que tinha para quem precisasse.
O presidente defendeu a aplicação da cloroquina para pacientes “em estado complicado”. “Tá lá, o homem, a mulher, idoso, chega num estado bastante complicado, faz o teste, tem o coronavírus, aplica logo, pô.”
O Ministério da Saúde criou nesta quarta-feira (25) um protocolo para dar o medicamento a pacientes com o novo coronavírus em estado grave. O tratamento deve ocorrer ao longo de cinco dias e mediante supervisão médica, já que ainda não há dados robustos sobre eficácia da cloroquina para a Covid-19.
“A pessoa medicada corretamente, não tem efeito colateral”, afirmou o presidente. “Se Deus quiser, isso aqui [a hidroxicloroquina] vai ser confirmado brevemente como remédio para curar todos os portadores do coronavírus ou Covid-19. Daí, com o remédio, esta histeria que foi plantada aqui no Brasil… Não foi a imprensa, acho que foi o Papai Noel, o Saci-Pererê que plantou no Brasil… faça com que o povo tenha paz, tranquilidade.”
Ele também voltou a criticar “alguns governadores e prefeitos” pelas restrições que impuseram em seus estados e municípios. “Esta neurose de fechar tudo não está dando certo.”
Leia na íntegra: Folha