Ao nomear reitor o professor Paulo Vargas, presidente Jair Bolsonaro provocou indignação da comunidade universitária; confira a nota da Adufes e do DCE da UFE
Primeira colocada na lista tríplice para a reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), a professora Ethel Maciel, atual vice-reitora, foi preterida pelo presidente Jair Bolsonaro em favor do professor Paulo Vargas, que havia liderado a campanha dela para reitora. Enquanto Ethel atingiu a primeira colocação, com 26 votos nos conselhos, Paulo Vargas e Rogério Faleiros, tiveram apenas 16 votos – ambos a apoiaram na campanha para reitora.
A decisão de Bolsonaro surpreendeu o corpo docente, uma vez que Paulo Vargas compôs a lista tríplice em acordo com Ethel Maciel. O professor de Filosofia da Ufes Maurício Abdalla foi um dos que usou as redes sociais para criticar a atitude do presidente: ” A nomeação do professor Paulo Vargas foi apenas usada como forma de vingança pela derrota que a extrema-direita sofreu na Ufes para uma mulher”, disse, salientando que “Paulo Vargas não é aliado do governo e é uma pessoa decente”.
No jornal A Gazeta, Ethel publicou uma nota na qual lamenta o desrespeito do presidente à escolha da comunidade universitária mas também declara apoio ao colega Paulo Vargas como novo reitor. “Mesmo não sendo nomeada como a gestora máxima, estarei todos os dias comprometida com o projeto construído coletivamente para esta instituição”, disse. “Neste momento de tantas incertezas quanto ao futuro, declaro o meu apoio ao Reitor Paulo Vargas para dar serenidade na continuidade de um projeto coletivo para nossa Universidade.”
A Associação dos Docentes da UFES (Adufes) e o DCE da universidade publicaram nota conjunta em que manifestam “indignação” com o fato de Bolsonaro ignorar a escolha da instituição.
Confira a nota da Adufes e do DCE:
NOTA SOBRE A NÃO NOMEAÇÃO DA PROFESSORA ETHEL MACIEL COMO REITORA DA UFES
A Associação dos Docentes da Ufes (Adufes) e o Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE-Ufes) manifestam indignação com a não nomeação da primeira colocada da lista tríplice para a reitoria da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Professora Ethel Maciel, que participou de uma consulta popular, realizada na instituição em 6 de novembro de 2019. Posteriormente, em 5 de dezembro de 2019, a docente novamente se submeteu ao voto, agora do Colégio Eleitoral dos Conselhos Superiores da Ufes e novamente venceu a disputa. Portanto, seu nome foi legitimado pela comunidade acadêmica e pelas instâncias formais, o que lhe dá todo respaldo para ser a nova reitora da Ufes. Revolta-nos profundamente que, ao longo da história brasileira, nenhum governo tenha efetuado a contento as mudanças nas leis relativas à nomeação de dirigentes das instituições de ensino a fim de tornar o processo eleitoral a expressão da vontade da comunidade acadêmica. O resultado disso, diante de um governo autoritário, que diariamente insulta a educação e a trata de forma ultrajante, é o desrespeito ao desejo da coletividade da universidade. Manteremos nossas lutas pela universidade pública, gratuita, laica, de qualidade e estatal, dentro e fora da Ufes. Jamais transigindo com o diálogo imprescindível entre a administração e os segmentos que compõem a UFES, interpelaremos a nova gestão, assim como fizemos com a administração que se encerra . Independente de nossas pautas e posicionamentos, prestamos nossa solidariedade à Professora Ethel, que, apesar de legitimamente eleita, não poderá estar à frente da reitoria da Ufes devido ao desprezo do Governo Federal pela expressão do desejo de sua comunidade.
Vitória, 24 de março de 2020.
Associação dos Docentes da UFES (Adufes)
Diretório Central dos Estudantes da Ufes (DCE-UFES)