Entidade que representa instituições diz que medida provocaria demissões e quebra do setor
Sem aulas presenciais por causa da pandemia de coronavírus, estudantes de ensino superior têm se mobilizado para pedir a redução ou mesmo a suspensão de mensalidades.
Com abaixo-assinados circulando por todo o país, a UNE (União Nacional dos Estudantes) decidiu encampar a reivindicação em uma campanha que pedirá a equiparação do valor cobrado pelos cursos presenciais aos do sistema de EAD (educação a distância). No caso das instituições que não tiverem o curso no equivalente a distância, a entidade demandará desconto proporcional à redução de despesas fixas, como água e luz.
A UNE pede ainda que as faculdades não reprovem os alunos por faltas, viabilizem meios para que eles continuem os estudos, não alterem o coeficiente de rendimento individual com as notas do atual semestre e permitam o trancamento da matrícula sem taxas.
“Considerando-se que as instituições de ensino superior já estão tendo custos reduzidos com itens como manutenção e energia, é justo que os estudantes, que também têm seus rendimentos fortemente afetados, paguem menos”, afirma o presidente da entidade, Iago Montalvão.
Ele afirma que entre os abaixo-assinados recebidos estão os de alunos da Estácio, no Rio, do Mackenzie, em São Paulo, e da Universidade Positivo, no Paraná. “Sabemos que muitas dessas instituições, especialmente os grandes conglomerados, têm recursos de sobra para dar conta de um momento como esse sem promover demissões, diferente dos estudantes que estão sem fonte de renda.” Segundo ele, será protocolada uma representação no Ministério Público Federal.
Presidente do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da FMU, Bárbara Quencca diz que ela e seus colegas ainda não decidiram pedir a redução de mensalidades, pelo impacto que a medida pode ter sobre os empregos na faculdade, mas pede mais diálogo das instituições. “Muitos estudantes não estão conseguindo acessar a plataforma online. Ninguém quer prejudicar nem o professor nem a faxineira, mas a gente precisa ter um canal de diálogo”, afirma.
Diretor-executivo do Semesp (entidade que representa as instituições de ensino superior), Rodrigo Capelato afirma que o pleito de redução ou mesmo suspensão de mensalidades é irresponsável. Ele afirma que muitas instituições estão tendo até gastos extras para implantar novos canais de educação remota, e que uma diminuição dos pagamentos iria provocar uma série de demissões.
Argumenta ainda que o ensino a distância nesse período de quarentena não é equivalente ao dos cursos originalmente EAD, que já contam com uma série de aulas gravadas e docentes responsáveis por grandes grupos de alunos. “Professores neste momento estão trabalhando dobrado para rever seus planos de aulas e propor novas atividades. É um ensino presencial remoto.”
Ele pondera, por outro lado, que as instituições devem estar abertas a discutir caso a caso a situação de estudantes que estiverem sofrendo os impactos econômicos da atual situação, eventualmente analisando prazos de pagamento.
Também representativa do setor, a ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior) vai na mesma linha e afirma que o modelo atual é diferente da EAD tradicional. “A Educação a Distância (EAD) é uma modalidade onde o conteúdo é de autoinstrução, com apoio de tutores. O modelo que está sendo implantado em caráter emergencial se dá por meio de aulas remotas, que são ministradas, em sua maioria, no mesmo horário convencional da aula, por professores, e não por tutores.”
Leia na íntegra: Folha de S.Paulo