O desestímulo ao trabalho docente atinge níveis jamais vistos na história do ensino superior no Brasil. O estímulo ao trabalho de qualquer profissão se dá não apenas por meio remuneratório, mas também pela valorização da sua importância social – dois aspectos que estão relacionados. Uma das particularidades da atualidade é que a “pós-verdade” atingiu o Brasil (Substantivo: fatos objetivos têm menos importância do que crenças pessoais – Oxford Dictionaries). Esta assume o perfil de guerra ao conhecimento, com contornos obscurantistas.
Assumindo e promovendo esta guerra, o governo cultua a ignorância e caracteriza como ideologia conhecimentos que contradizem suas políticas, como no caso do aquecimento global que, segundo o Ministro Araújo, das Relações Exteriores, seria a suposta ideologia do “climatismo”. E, com o suposto objetivo de livrar o conhecimento de ideologias, promove a ideologização autoritária da educação, da ciência, da arte e da cultura e isso agride frontalmente a própria razão de existência da educação e da Universidade, vale dizer, do nosso trabalho. O método de livrar supostamente o conhecimento de ideologias remonta à ditadura civil-militar, com a diferença de que aquele regime, por ter sido desenvolvimentista, investiu em ciência, criou universidades e institutos de pesquisa. O tempo agora é de desindustrialização, de submissão à financeirização da economia, de privatizações acompanhadas de desnacionalizações, de aumento do desemprego e de sua precarização.
O desestímulo, neste contexto, atinge fortemente os jovens, afetando suas esperanças profissionais. E jovens desestimulados constituem mais um fator de desestímulo ao nosso trabalho.
A circunstância de termos que trabalhar cotidianamente sob tais níveis de desvalorização de nosso trabalho nos impõe reagir coletivamente, caso contrário padeceremos doenças e ficaremos individualmente focados na torcida da contagem do tempo para a aposentadoria. Mas, esta não é garantia de qualidade de vida, pois, para além das perdas que já tivemos nas sucessivas reformas da previdência, a pretendida reforma administrativa promete reduzir os proventos dos que já se encontram aposentados. Nossa reação coletiva deve envolver os que estão em atividade e os aposentados, local e nacionalmente, sendo o espaço sindical aquele que nos possibilita agirmos coletivamente.
Temos reagido e lutado, mas neste contexto de uma guerra imposta contra a Universidade Pública, tais lutas já não são mais pontuais e esporádicas e assumem a forma de uma resistência que precisa ser forte e eventualmente duradoura, para recuperar condições dignas para a realização do nosso trabalho. Aí se insere a decisão de 30/4/19 de vincular a Apufsc a uma das duas entidades nacionais, Andes ou Proifes, todo o debate que se seguiu e a próxima deliberação a ser tomada em 24/3/20 sobre a qual das duas a Apufsc irá se vincular.
O debate em 2019 transcorreu em meio a lutas e mobilizações dos professores e da comunidade da UFSC e as principais delas foram participações em mobilizações nacionais: Paralisação nacional de 15/5 (“tsunami da educação”), as manifestações de 30/5, a Greve Geral de 14/6 (apenas nos atos, sem paralisação de atividades) e a Greve Nacional da Educação nos dias 2 e 3/10. O mesmo ocorre agora em 18 de março. Isto é, nós, professores da UFSC, estamos resistindo aos ataques à Universidade Pública e aos nossos direitos e, para isso, estamos nos inserindo nos processos coletivos mais amplos de luta, com destaque aos de nossa própria categoria, a dos professores das instituições públicas de ensino superior. Os docentes da UFSC, então, assumiram a agenda do Andes antes mesmo da formalização de vinculação orgânica.
O crescimento das lutas em todo o país repercutiu no 39º Congresso do Andes (4 a 8/2/2020), que foi o maior em 39 anos de história: 680 participantes.
Reunamo-nos no Andes enfrentando de frente a “pós-verdade”, apoiando-nos e exercendo a liberdade de organização que nos é assegurada pela Constituição, que veda ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical. As decisões sobre criar sindicatos, desmembrá-los ou remembrá-los são da categoria e não do Estado. Não vamos dissolver a Apufsc, mas apenas reincorporá-la ao Andes, mantendo sua “autonomia política, administrativa, patrimonial e financeira” como assegura o Estatuto do Andes. Estaremos nos unindo nacionalmente à ampla maioria dos professores e teremos a carta sindical que garante a representação de todos nas negociações com o governo.
Por Célia Vendramini (CED) e Mauro Titton (CED)