Pastor Roque Albuquerque tomou posse como reitor da Unilab nesta quinta-feira (12); sindicato repudia novo ataque à autonomia universitária
Nomeado reitor pro tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) pelo presidente Jair Bolsonaro, o professor e pastor Roque do Nascimento Albuquerque tomou posse nesta quinta-feira (12), em Brasília, com a presença do ministro da Educação, Abraham Weintraub. A diretoria do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará (ADUFC), que soube da notícia pela imprensa, se reuniu às pressas na tarde de ontem para se inteirar da situação e redigir uma nota de repúdio contra esta nomeação – considerada como mais uma intervenção de Bolsonaro nas universidades federais do Ceará.
“Que nosso horror a esta indicação se converta em ação, em força para lutar contra uma orientação ideológica inimiga da liberdade e da autonomia, que despreza os direitos básicos e a dignidade humana, arraigada no escravismo, no patrimonialismo e na desigualdade”, diz um trecho da nota do ADUFC. Confira aqui a nota na íntegra.
Em agosto do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro nomeou o atual reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque, que foi o candidato menos votado, gerando reações como “Fora Interventor” por parte do sindicato e da comunidade universitária.
O que acontece agora na Unilab, universidade que tem campus nos estados do Ceará e na Bahia, e cuja reitoria está em Redenção (CE), município a 60 km de Fortaleza, é ainda mais grave porque nem sequer houve eleição. Criada há uma década, a universidade já teve seis reitores antes do pastor recém nomeado, todos pro tempore e sem qualquer processo eleitoral. Embora tenha um estatuto que prevê eleição para reitor pelo Conselho Universitário e composição de lista tríplice, a Unilab ainda depende da aprovação deste estatuto pelo MEC para que possa escolher seus reitores de forma autônoma. Nem as várias denúncias do sindicato ao Ministério Público Federal solicitando a aprovação do estatuto pelo MEC surtiram efeito.
Uma das lutas do ADUFC é justamente a homologação definitiva do estatuto da Unilab pelo MEC para que o processo de eleição para reitor seja efetivado, explica o presidente do ADUFC, professor Bruno Rocha. “Só com a homologação, que prevê também as eleições com a participação da comunidade universitária, podemos acabar com as nomeações pro tempore e tentar inclusive reverter esta última”, reitera Rocha.
“A nomeação do novo interventor da Unilab é, para nós, mais um ataque à autonomia universitária. Não há uma relação direta com o tipo de intervenção que sofreu a UFC – mas os atores políticos envolvidos nessas nomeações se misturam”, interpreta o presidente. Segundo o jornal O Povo, a nomeação do pastor foi realizada com a articulação do deputado federal Jaziel Pereira de Sousa (PL/CE) e da deputada estadual Silvana Oliveira de Sousa (PL/CE), que são casados e evangélicos.
Ao site G1, o pastor Roque Albuquerque declarou, após tomar posse como reitor da Unilab: “Não vou transformar a Unilab em uma igreja, mas num centro acadêmico de excelência. Unilab é transição. Meu chamado pastoral é permanente”. Professor da universidade, até agora ele também atuava como pastor titular da Igreja Batista do Calvário, em Fortaleza. Mas, com a nova função, diz que vai se afastar temporariamente das atividades na igreja.
Imprensa Apufsc