Weintraub despeja TV Escola e encerra contrato com associação, após polêmica com Olavo

Nos bastidores circula a informação de que o MECquer repassar as atividades do canal para a EBC; a marca TV Escola pertence à Associação Roquette Pinto

O governo Jair Bolsonaro decidiu não renovar o contrato de gestão com a Associação Roquette Pinto, que gerencia a TV Escola. Além disso, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, determinou despejo da instituição das dependências do Ministério da Educação (MEC).

Não há certeza sobre a continuidade do canal. Segundo o Jornal Folha de S. Paulo apurou, Weintraub e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, tentaram indicar pessoas para a associação e influenciar nos rumos na TV.

A alta cúpula da Associação Roquette Pinto avalia que a atitude do governo é uma retaliação porque as indicações não foram acolhidas. Desde sexta-feira (13), profissionais da TV Escola recolhem equipamentos. Um caminhão de mudança está contratado para levar os materiais do MEC para um depósito em Brasília.

Um ofício de outubro já pedia a desocupação do espaço, uma sala no 9º andar do prédio do MEC. Naquele momento, o argumento era sobre a necessidade de uma reforma no espaço.

A associação tentou na Justiça, em 29 de novembro, um prazo maior para efetuar a mudança, mas a Justiça derrubou liminar na quinta-feira (12).

“Com a queda liminar, de fato, é um despejo”, disse Flavio Pereira de Sousa, da assessoria jurídica da Roquette Pinto, na última sexta-feira.

TV Escola é despejada de sala do MEC Foto: Divulgação

A TV Escola existe desde 1995 com conteúdo educacional voltado para professores e estudantes. A emissora é responsável, por exemplo, pela transmissão da Hora do Enem, com conteúdo de preparação para o exame.

Na semana passada, a emissora passou a transmitir uma série sobre a história do Brasil com visão revisionista, ideológica de direita e conservadora, inclusive com entrevistas do escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo.

Indicações

Em julho, Onyx encaminhou a Weintraub a indicação de dois aliados para que fossem contratados, segundo cópias das indicações obtidas pela Folha. São eles o ex-deputado Marcelo Jandre Delaroli (do PR-RJ), que esteve na Casa Civil) e Glenio Josino de Camargo, que assessora um deputado na Câmara.

Os dois deveriam ser, respectivamente, superintendente da TV Escola em Brasília e assessor dessa superintendência. Um deles chegou a exigir o valor da salário, segundo relatos ouvidos pela Folha.

Weintraub é próximo de Onyx, de quem foi assessor na Casa Civil antes de assumir o MEC. Quando ainda estava na Casa Civil, Weintraub chegou a encaminhar à associação, segundo a Folha apurou, uma relação de dez pessoas para serem absorvidos na TV Escola. O que não foi atendido.

No ano passado, a Roquette Pinto recebeu R$ 73 milhões do MEC por meio de um contrato de gestão. Além de gerenciar a TV Escola, a associação também é responsável TV Ines, canal voltado a surdos, e pela Cinemateca.

O MEC atrasou repasses neste ano para a associação, em torno de 40% dos R$ 70 milhões previstos, o que vinha dificultando as operações.

Apesar de ser uma associação independente, a direção e o quadro de funcionários são escolhidos com grande influência pelo MEC. O diretor-geral, Francisco Câmpera, foi indicado ainda na gestão do ex-ministro Ricardo Vélez.

A associação ainda abrigou integrantes da ala mais ideológica do governo, como Eduardo Melo, que é diretor adjunto.

O MEC confirma que o contrato não será renovado, mas defende que “estuda a possibilidade de as atividades do canal serem exercidas por outra instituição da administração pública”. A pasta não respondeu qual o motivo do encerramento e do despejo.

Nos bastidores circula a informação de que o ministério quer repassar as atividades do canal para a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação). A marca TV Escola pertence à Associação Roquette Pinto.

Em nota, a Roquette Pinto informou que tentou “inúmeros contatos com assessores do Ministério e com o próprio ministro no sentido de solicitar uma prorrogação do prazo para a desocupação afim de poder achar um local adequado. Não recebeu nenhuma resposta”.

A associação reúne 369 funcionários, sendo que cerca de 200 deles atuam na TV Escola. Um assessor próximo a Câmpera afirmou à reportagem que ele espera intervenção do presidente Bolsonaro na situação.

Para enfraquecer o diretor, o ministro da Educação e aliados, como seu irmão, Artur Weintraub (assessor de Bolsonaro) insistem para Bolsonaro que Câmpera é de esquerda por ter veiculado um documentário sobre Rosa Parks, ícone americana do movimento negro por ter se recusado a ceder lugar em um ônibus em 1955.

Leia na íntegra: Folha de S. Paulo