Narrada por Olavo de Carvalho, pelo deputado descendente da família real, Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL), e por religiosos, nova versão da história do Brasil minimiza genocídio indígena e escravidão dos negros
A TV Escola, ligada ao MEC, iniciou nesta segunda-feira (9) a exibição de uma série sobre a história do Brasil com visão ideológica de direita e conservadora, com entrevistas do escritor Olavo de Carvalho e religiosos. A série, segundo a TV Escola, faz parte da nova programação do canal. A TV Escola é gerida pela Associação Roquette Pinto com recursos públicos repassados pelo MEC. O material foi cedido e não haverá custos para a exibição.
A série “Brasi: A Última Cruzada” foi realizada pelo grupo Brasil Paralelo e o primeiro episódio está disponível no YouTube desde 2017. Criado em 2016, a produtora se propõe a uma revisão histórica. No documentário a história é narrada de forma a engrandecer o papel da Igreja Católica e da fé na empreitada de Portugal na chegada ao território que seria o Brasil. O genocídio indígena e a história dos negros escravizados são minimizados.
Em 31 de março deste ano, aniversário do golpe militar, a produtora Brasil Paralelo lançou “1964: O Brasil entre Armas e Livros”, documentário que justifica a derrubada do presidente João Goulart como um movimento de reação a uma real ameaça comunista – é consenso entre historiadores que essa ameaça nunca existiu.
“Quando falamos dos escravos, lembramos da luta dos abolicionistas”, diz o narrador nos segundo episódio. O primeiro episódio, que foi ao ar na segunda-feira (9), propõe-se a retomar o contexto de Portugal nas grandes navegações e segue na cronologia até a ação dos bandeirantes.
Nas palavras do deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP), que é descendente da família real, o fator motivador das grandes navegações portuguesas foi mais religioso do que mercantil. “Você não se lança no pequeno barco atráves de um oceano que você não conhece para encontrar um pau brasa vermelhinho. Não é isso, é para encontrar a terra prometida, é para encontrar terra abençoada”, diz ele, no primeiro episódio.
“Não era coisa pequena, frívola, como se constrói (entre historiadores). Claro, é mais difícil se contar essa história para um número grande de pessoas.”
A série tem início com uma breve fala do historiador Alberto da Costa e Silva, que não aparece no primeiro capítulo. No segundo episódio, o historiador Jorge Caldeira também faz colaborações.
Mas são figuras conservadores que mais se revezam na tela, como Olavo de Carvalho, referência do bolsonarismo, e Luiz Philippe.
Entre os entrevistados estão José Carlos Sepúlveda, intitulado discípulo de Plínio Corrêa de Oliveira (líder da TFP, a Tradição, Família e Propriedade), o delegado, católico e autor de livros jurídicos Rafael Vitola, o licenciado em história Thomas Giulliano Ferreira dos Santos, que escreveu um livro em que critica Paulo Freire, e o analista político Percival Puggina, também conservador e religioso.
Ainda faz parte Rafael Nogueira, aluno de Olavo, consultor do documentário e recentemente nomeado para a presidência da Biblioteca Nacional.
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