Notícias compartilhadas pelo Ministro nas redes sociais não provam acusação sobre produção extensiva de drogas
Em seu mais recente ataque às universidades federais, o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou na semana passada que as instituições de ensino estariam abrigando “extensivas plantações de maconha” em suas áreas. As declarações foram dadas pelo titular da Educação em entrevista ao Jornal da Cidade, na qual Weintraub afirmou haver doutrinação nos centros de ensino alimentada pelo que chama de falácia de que as universidades precisariam de autonomia.
Como prova, o ministro divulgou em suas redes sociais duas notícias que, checadas pelo Jornal Folha de São Paulo, não autorizam uma conclusão como a manifestada pelo titular da pasta. As notícias veiculadas por Weintraub são de 2017 e de maio de 2019, e citam a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A primeira foi usada pelo ministro para defender que há plantações extensivas de maconha em algumas universidades federais brasileiras. Em sua rede social, Weintraub compartilhou um vídeo sobre uma operação que terminou com três estudantes detidos —dois deles, da UnB.
A reportagem, de abril de 2017, afirmava que as plantas haviam sido encontradas em terreno pertencente à universidade. A respeito da atuação dos estudantes, o delegado responsável, Rodrigo Bonach, dizia na ocasião ser preciso determinar se a maconha era para consumo pessoal ou se seria vendida para terceiros.
A investigação, não citada pelo ministro, mostrou posteriormente que a plantação não estava em área da universidade. Os jovens também não foram condenados por tráfico de drogas. Foram abertos três processos por posse, plantio e oferta de droga para consumo comum e sem objetivo de lucro, em dependências de estabelecimento de ensino.
O Ministério Público ofereceu aos dois estudantes da UnB acordo por constatar que as infrações tinham pequeno potencial ofensivo. Um deles teve o processo de consumo extinto por falta de provas. Em nota, a UnB ressaltou que o local em que ocorreu a apreensão de maconha não pertence à universidade e que não houve confirmação na Justiça de autoria de crime pelos estudantes.
Na mesma sexta, Weintraub divulgou outra notícia, sobre drogas sintéticas supostamente produzidas na UFMG.
A reportagem, de maio deste ano, trazia uma investigação da Polícia Civil sobre estudantes que usariam insumos da instituição de ensino para fabricar e vender drogas.
A decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, de outubro, deixa claro que os três condenados não tinham vínculo formal com a instituição e que não havia provas de que a direção da faculdade tivesse sido comunicada da ocorrência —embora, conforme o entendimento do juiz Thiago Colnago, da 3ª Vara de Tóxicos da Comarca de Belo Horizonte, fosse pouco provável que os servidores públicos da UFMG não tivessem desconfiado do que ocorria nas dependências da universidade.
Procurada, a UFMG informou que, conforme comprovado na Justiça, os indiciados não eram estudantes ou servidores da universidade e que “não há indícios ou qualquer prova de que laboratórios de química foram utilizados para fabricação de drogas”. Cita ainda nota do conselho universitário em que afirma não pactuar com práticas ilegais e reafirma a disposição de cooperar com autoridades.
O Jornal Folha de São Paulo informou também que enviou neste domingo (24) questionamentos ao ministro, solicitando que Weintraub informasse quais dados usou para embasar sua declaração sobre plantio extensivo de maconha em universidades. Não houve resposta até a conclusão da reportagem.
Leia na íntegra: Folha de São Paulo