Há tempos a UFSC tem sido protagonista nas mobilizações nacionais contra os cortes orçamentários e contra o Programa Future-se, especialmente por meio do movimento estudantil (graduação e PG) e de sua greve que já dura mais de 25 dias.
Nós docentes, por diferentes razões, dissemos não à greve por tempo indeterminado, mas desde o início estivemos engajados com as outras categorias em ações para esclarecer a população sobre a relevância do que fazemos na universidade e sobre os graves problemas que estamos enfrentando. A decisão por paralisarmos nossas atividades regulares nos dias 02 e 03 foi também para somar força ao movimento nacional de entidades ligadas à educação. No entanto, nacionalmente na greve de 48 horas o que mais sobressaiu foi a diversidade de iniciativas e formas de se ressaltar o serviço que as universidades prestam à sociedade. E isso foi feito com a universidade cheia de gente e tendo suas atividades funcionando regularmente. Na avaliação de muitas entidades sindicais docentes, a luta precisa continuar sob diferentes formas, especialmente quando consideramos o projeto que o MEC tem para às Universidades.
As liberações a conta-gotas dos recursos orçamentários por parte do governo federal denotam sua estratégia beligerante e desrespeitosa com as instituições, pouco se importando com os efeitos sobre as condições de ensino e do andamento das pesquisas. O estrangulamento financeiro do ensino superior não é consequência da crise, mas sim um modo de governar e uma estratégia para controlar as universidades. E, a permanente desqualificação da Universidade serve para pavimentar sua completa privatização e/ou dos serviços que presta a toda sociedade para apenas a um setor da mesma. A desqualificação e desfinanciamento servem, portanto, para diminuir sua dimensão pública e dissipar a função crítica e social que sempre lhe pertenceu. É por esse escopo que com frequência ouvimos as grosseiras e desqualificadoras palavras do Ministro da Educação, as quais se somam às medidas como os cortes de bolsas de pesquisa, da restrição das verbas de custeio e conteúdo do programa Future-se. Tudo isso gera um clima de revolta e de tensão no meio universitário, principalmente estudantil. É nesse contexto que precisa ser compreendido e respeitado.
A legitimidade de se protestar é uma garantia de nossa Constituição Federal e a luta dos estudantes da UFSC foi reconhecida por nossa categoria em várias assembleias. Contudo, a baixa adesão nacional à greve estudantil e à paralisação de 48 horas mostram que essa forma de luta precisa ser repensada e que outros caminhos de protesto precisam ser escolhidos.
Em que pese o respeito à independência do movimento estudantil em relação a nossa categoria, o DCE fez avaliação argumentando pelo o fim da greve, mas a AG estudantil do dia 04/10 entendeu pela sua postergação, gerando dificuldades adicionais em relação a questão da greve e do problema da reposição de conteúdos.
Assim, convocaremos nosso CR para dia 11 próximo, para apreciar e se manifestar sobre o quadro político. Quando se considera as várias dificuldades políticas para uma forte e unitária mobilização nacional, é preciso deixar claro que o apoio de nossa categoria à luta dos estudantes da UFSC – que escolheram fazer uma greve geral -, essa mesma greve agora dá sinais de debilidade. Portanto, agora nos parece ser o momento de retomar as atividades de ensino e, para tanto, nós docentes temos que ajudar a criar as condições para a reposição de conteúdos e avaliações, desde que a Administração Central e o CUn definam imediatamente a questão da flexibilização do calendário acadêmico de modo que seja possível a integralização curricular em 2019.2, para que cada docente avalie o tempo necessário para as reposições – no máximo corresponderia aos dias da greve que ocorreu em cada curso/disciplina.
Quando foi hipotecado apoio aos estudantes não pronunciamos palavras ocas e agora aquela nossa atitude deve ganhar materialidade por meio de nosso sobre-trabalho, o que obviamente gerará ajustes na organização do trabalho docente.
Os alunos lutaram por causas comuns às nossas: o funcionamento das universidades, verbas para a ciência e para a educação e, em última instância, nossos empregos! Discordar das formas de luta é do processo político, mas esconder-se nesse debate e esquecer os graves problemas de fundo que originam a luta e a revolta pode tomar contornos que reforçam e apoiam justamente àqueles que, através de suas erráticas medidas, são os algozes da universidade.
A Apufsc-Sindical, por meio de suas instâncias, sempre balizada pelo que rege seu estatuto, tem oportunizado o debate democrático de ideias, de propostas e de formas de luta para o enfrentamento desses graves problemas. Agora, portanto, é tempo de fortalecer ainda mais a Comissão de Mobilização do CR da Apufsc, com ações como a UFSC na Praça, o uso dos meios de comunicação para esclarecer a população, a busca de articulação com as frentes parlamentares em defesa da C&T, da Educação e das Universidades. A luta contra os cortes orçamentários em 2020 (40% em relação ao atual), contra a extinção do regime de dedicação exclusiva (DE) e a luta contra o Programa Future-se será dura, talvez longa e de muita resistência, o que vai exigir unidade política de toda a comunidade universitária.
Em 07 de outubro de 2019,
Diretoria da Apufsc Sindical