Assembleia Universitária, com forte presença dos alunos, delibera por greve, rejeição ao Future-se e apoio à ocupação da UFFS
A assembleia reuniu cerca de 5 mil pessoas, de acordo como DCE. Foto: Vinicius Cláudio.
A Assembleia Universitária, convocada pelo Conselho Universitário (CUn) da UFSC, mas composta em sua imensa maioria por estudantes, decidiu nesta segunda-feira convocar uma greve geral a partir do dia 10 contra os cortes promovidos pelo governo federal e o programa Future-se. Segundo o Diretório Central dos Estudantes (DCE), mais de 5 mil pessoas participaram da assembleia, que aconteceu no auditório Garapuvu, o maior da universidade, e durou cerca de quatro horas.
A assembleia votou a greve em dois turnos: primeiro, se seria declarada ou não, e depois a partir de qual data. No primeiro turno, a proposta venceu disparada. Já no segundo, houve discussão se haveria paralisação a partir de hoje, ou se haveria um período de construção desse movimento. A maioria dos presentes decidiu por declarar estado de greve, e estabelecer um prazo até dia 10 de setembro para que as entidades de classe e cursos decidam se vão aderir ou não. Uma assembleia estudantil convocada pelo DCE está marcada para essa data, quando a greve deve ser deflagrada.
“Conseguimos colocar os estudantes em movimento. Foi uma assembleia muito vitoriosa”, disse Marco Antônio, estudante de História e representante do DCE. “Precisamos construir esse movimento com consequência, com cautela, mas com a combatividade necessária contra esse governo. Mas isso é o que a universidade decidiu hoje, que quer uma greve. Agora vamos construir isso nas entidades.”
Entre as deliberações, estão também a rejeição completa do Future-se, o apoio à ocupação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) pelos estudantes, por conta da nomeação como reitor do terceiro classificado da lista tríplice, e a suspensão do Vestibular 2020 até que os cortes no orçamento da UFSC sejam revertidos. Também foi levantada a proposta de uma ocupação da reitoria, que foi rejeitada.
À noite, após a Assembleia, a UFSC divulgou uma nota no Twitter para esclarecer que o vestibular está confirmado. “O Vestibular da UFSC é ato administrativo regular, regido pelo Conselho Universitário, e é apenas o Conselho que pode deliberar pela não-realização do concurso”, diz a universidade.
Hoje o Conselho Universitário (CUn) vai se reunir às 14 horas, também no Garapuvu, para discutir se apóia ou rejeita o Future-se. O DCE, que tem representação no CUn, deve levar as outras decisões da Assembleia para o Conselho, inclusive a de suspender o vestibular.
“A assembleia, que começou formalmente como uma assembleia unificada, convocada por todas as entidades, terminou como uma assembleia estudantil”, disse Ubaldo à imprensa da Apufsc, antes de deixar o local. Ele participou da mesa por quase três horas, mas se manifestou apenas uma vez, em apoio à ocupação da UFFS e disse que defenderá a aprovação de uma nota pelo CUn.
“Foram tomadas decisões que não posso colocar como definitivas porque serão levadas ao Conselho Universitário”, disse o reitor. “Acredito que o Conselho vai referendar o não ao Future-se. Eu, pessoalmente, sou contra, mas não sou eu que decido. O Conselho pode surpreender todo mundo amanhã.”
Questionado sobre a greve geral, o reitor disse que “isso é tudo o que o governo Bolsonaro mais quer”, para reforçar o argumento deles. “Mas na assembleia ninguém perguntou o que o reitor achou. Quando achei que fosse me manifestar, a assembleia acabou”.
Segundo Marco Antônio, “essa é a assembleia mais representativa da opinião da comunidade universitária, e essa opinião deve ser defendida. Vamos defender no CUn todos os encaminhamentos tirados aqui, inclusive aqueles que não são a posição do DCE”.
Estudantes que não conseguiram entrar no auditório Garapuvu, o maior da universidade, acompanharam a Assembleia por um telão do lado de fora. Foto: Vinicius Cláudio.
Apufsc é impedida de participar
A Apufsc e a atual diretoria do Sintufsc foram impedidas de participar da mesa, por decisão da maioria dos presentes. Após o início dos trabalhos, que foram conduzidos por estudantes do DCE, as duas entidades foram convidadas a compor a mesa, sob fortes vaias dos presentes. Então, a coordenação colocou em votação duas propostas: manter a mesa como estava, composta apenas por estudantes e o reitor, ou abrir para os sindicatos. Com a vitória da primeira proposta, a Apufsc foi excluída do processo.
Na avaliação do presidente da Apufsc, Bebeto Marques, a exclusão das entidades representativas dos professores e dos servidores “é ruim porque isso não ajuda a fortalecer a luta que se tem pela frente”. Ele reconhece que é preciso elogiar a participação estudantil, “até porque os estudantes sentiram agora fortemente os cortes, através do RU e dos anúncios de hoje de cortes de bolsas na pós-graduação e sobre o orçamento de 2020. A revolta estudantil é grande e com razão irão lutar por seus direitos à educação pública e gratuita.”
“Esperamos que o Conselho Universitário nesta terça-feira tenha uma posição clara sobre o Future-se, de rejeição a este projeto por tudo o que significa, mas também que haja condição de realização do Conselho, preservando essa instância da universidade, que é muito importante. A luta é nacional e requer paciência e respeito entre as categorias. Esperamos também que, com o tempo, as entidades consigam se entender, ter uma linguagem e ações comuns para confrontar este desmonte da universidade pública”, afirmou Bebeto.
Suspensão do vestibular foi ponto polêmico
A proposta do DCE de pedir ao CUn a suspensão do Vestibular 2020 até que os cortes sejam revertidos foi a mais polêmica da noite, com membros da própria gestão da entidade se manifestando contra. Na fala favorável à suspensão, Marco Antônio explicou que “não tem como receber novos estudantes sem restaurante universitário e condições mínimas de ensino. Se não parar os cortes, não tem que ter vestibular”. Já os estudantes contrários enxergavam a suspensão do concurso como “jogar a toalha” e desistir de lutar pelas pessoas que ainda vão entrar na universidade.
A votação foi feita diversas vezes, e uma das coordenadoras da mesa chegou a sugerir que houvesse votação por cédula. Ao fim, o pedido de suspensão foi aprovado por contraste, ou seja, quando os favoráveis são facilmente identificados como mais numerosos que os contrários.
Encaminhamentos completos
As decisões finais da Assembleia Universitária foram:
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Rejeitar o Future-se na íntegra
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Apoiar as ocupações na UFFS
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Aderir às manifestações do dia 7 de setembro a favor da educação
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Criar um Comitê de Construção da Greve Geral
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Aprovar uma carta pedindo a recontratação imediata dos 95 trabalhadores terceirizados demitidos
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Pedir ao CUn a suspensão do Vestibular 2020 até que os cortes sejam revertidos
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Decretar estado de greve na UFSC, com período de construção até dia 10, quando começa a paralisação
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Exigir que o CUn respeite as decisões tomadas na assembleia.
Victor Lacombe