A missão da Universidade, aqui e agora (1ª parte)

Rosendo A. Yunes

A dependência: Neste momento nosso país está completamente alinhado com EUA, ou seja, sua capacidade de decisão está fora, depende das decisões dos EUA. Este é o denominador comum das classes oligárquicas e ilustradas.

Significativo sector das classes média foram os predicadores das bases de um modelo cultural e político que não era seu, nem representava as aspirações do povo. Atuaram desta maneira, como polias transmissoras e executoras da substituição cultural, e em consequência do processo civilizatório (=tecnológico) dependente e ilusório. Isto significou ocultar nossa singularidade, inibir o processo cultural nacional e dar via livre à política cultural dos centros hegemônicos que estavam colados ao instrumental civilizatório aparentemente neutral.

A concretização estrutural da dependência é manifestada: 1) Do ponto de vista socioeconômico: na estrutura neoliberal capitalista que nega a soberania nacional e aprofunda a injustiça social alienando o esforço dos trabalhadores, cientistas e profissionais e igualmente a riqueza nacional; 2) Do ponto de vista cultural é um positivismo meramente constatador dos fatos e ocultação do sentido dos mesmos em nosso singular contexto histórico; 3) Do ponto de vista político é a preeminência dos interesses particulares e a promoção de uma ideologia abstrata e dogmática, que conduz à setorização e distração das forças populares, para montar uma soberania com suficiente capacidade de decisão nacional, não uma nação de mera aparência.

Hoje lamentamos a possível destruição da Amazônia, más não consideramos que era cumprir rigorosamente com o que tinha anunciado ao longo de 3 décadas de ocioso deputado que confirmou em sua campanha eleitoral vencer a “psicose ambientalista” criada e alimentado pela esquerda cultural, que entre outras coisas, inventou o aquecimento ambiental

Contrariamente à prática do capitalismo liberal e à ideologia positivista, o movimento nacional deve organizar a comunidade desde a cultura e não desde a civilização (=tecnologia), isto é, desde a totalidade concreta do povo, assim este nacionalismo é contrário ao nacionalismo oligárquico, porque integra a todos os homens, não somente internamente mas com sentido mundial.

Por este motivo para conseguir um verdadeiro diálogo inter-povos se deve conseguir a personalização, a auto identificação de cada um de eles, para não serem instrumentalizados ou alienados.
A ideologia do mérito: As grandes desigualdades sociais são um produto da organização da sociedade e não um fato da natureza a ser aceito como algo imutável. Para mudar a mentalidade de que não é um fato da natureza, devemos analisar especialmente nas universidades a “ideologia da meritocracia” que foi importada de EEUU e Europa, fundamentada na competição darwinista, onde ganha o mais forte, que é o poder do mérito, (de merecer: mercé, meretriz) ou seja, o princípio de organização social que baseia toda forma de promoção e atribuição de poder exclusivamente ao mérito, situação que existe também em alguns departamentos de nossa universidade.

O mérito é resultante de dois fatores: o talento que cada um obtém da loteria natural, gratuitamente, conceito de gratuidade esquecido na era economicista, sem esquecer que esse talento também depende da educação recebida e dos fatores socioambientais. O outro fator e o empenho que não depende somente dos sentimentos morais, más do reconhecimento social do que é meritório. Depende de cada sociedade.

Segundo o economista italiano Luigino Ruini todas as oligarquias gostariam de ser também aristocracias (governo dos melhores). A meritocracia é a aristocracia de nosso tempo, que em comparação com a renascentista, muda somente de mecanismo de reprodução das elites e a justificação e a legitimação de seu “ser melhor”. Não mais a terra o a dinastia, mas sim simplesmente o mérito.

Por isto a ideologia da meritocracia não pode ser tomada como critério para a distribuição dos recursos de poder tanto econômico como político. Aristóteles tinha vislumbrado claramente que eram formas mais ou menos veladas de tecnocracia oligárquica. Uma política da meritocracia, sempre, leva a eutanásia da democracia.

Para corrigir isto devemos aplicar o princípio da meritoriedade, fundamentada na colaboração, não é a soma de individualidades (bem total como soma) que fazem uma instituição, mas sua multiplicação (bem comum como produto) onde se algum termo é zero tudo se transforma em nulo. Na soma não. Assim, o bem comum esta por em cima dos bens individuais. Existe assim um desenvolvimento solidário e inclusivo. A organização social é baseada na fase de produção de riquezas visando assegurar a igualdade de capacitações. Assim, distingue entre o mérito aristocrático como critério de seleção entre pessoas e grupos, e mérito de cooperação como critério de verificação de uma habilidade ou competência para um resultado alcançado.

Se não é aceitável que todos os homens sejam tratados igualmente como gostaria o igualitarismo, e necessário que sejam tratados como iguais, pela sua dignidade, que eu considero como fraternidade humana desde que somos filhos de um mesmo Criador, mas considerando suas diferenças de educação, condição social etc. que é o que a ideologia da meritocracia não garante. Para esta última, se um indivíduo cai na pobreza, é culpa sua, e disso decorre o desprezo. Um professor que não é eficiente, que não consegue novas verdades, cai no desprezo. Quantos professores são desprezados no lugar de serem ajudados e integrados.

Liberação da dependência: Toda colonização começa pela cultura. Por isto a partir do cultural a liberação é irreversível. Devemos urgentemente estimular a consciência do ser nacional, para preservá-lo com identidade própria neste momento de globalização.

Conclusão: 1ro) A universidade neste momento histórico tem a missão de conscientizar sobre a necessidade de recuperar nossa cultura atualmente colonizada
2do) A universidade não deve aceitar a ideologia da meritocracia, individualista, egoísta e que gera desigualdades, mas aceitar a meritoriedade fundamentada no bem comum, na cooperação solidaria, que necessariamente é inclusiva e respeitosa da “dignidade humana”.

Rosendo A. Yunes. Professor aposentado.