Falta de verbas para o CNPq ameaça produção científica brasileira

Pesquisas de todo país podem ser interrompidas por conta do corte de 85 mil bolsas

O Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) anunciou que, devido ao déficit de R$ 330 milhões, cerca de 85 mil pesquisadores podem ficar sem bolsa nos próximos meses. Essa possibilidade coloca em risco diversos trabalhos importantes desenvolvidos em universidades, departamentos e laboratórios Brasil a fora.

A Revista Época publicou em seu portal depoimentos de alguns professores e pesquisadores de instituições de ensino superior públicas —  são responsáveis pela maior parte da pesquisa científica no país. Eles descrevem seus trabalhos e falam da importância do CNPq para a continuidade de suas atividades.

O Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o IMPA, fundado em 1952 pelo próprio CNPq, é um dos principais centros de pesquisa de matemática do mundo, atraindo pesquisadores brasileiros e estrangeiros, além de promover simpósios, seminários e programas de divulgação científica para a sociedade.

“Temos 49 bolsistas de doutorado pelo CNPq e 25 de mestrado. São jovens adultos para quem a bolsa é um salário. E estão com risco de as perder e não poder terminar os estudos. Todas as nossas áreas são dependentes desse financiamento”, explica o professor Marcelo Viana, diretor da instituição de pós-graduação.

O impacto dos cortes também chegou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É o caso do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular (PPGBCM) do Centro de Biotecnologia da universidade que, se confirmado o corte do CNPq, terá um impacto de R$ 450 mil reais ao PPGBCM só em 2019.

As medidas põem em risco a continuidade das pesquisas de uma série de áreas como a agropecuária, a saúde pública e a biologia. Entre os resultados já obtidos pelo PPGBCM estão a descoberta de um inibidor da doença de Parkinson e de compostos naturais capazes de reverter doenças causadas por fungos no pulmão e no cérebro.

As ciências humanas também padecem com a falta de financiamento, como demonstra o caso da professora Daniela Fávaro Garrossini, da Universidade Federal de Brasília (UNB) — que, ao lado da UFBA e UFF, foi uma das primeiras a ter cortes anunciados pelo MEC, em abril.

“Todos os alunos envolvidos de graduação e pós-graduação não têm possibilidade de bolsas. A maioria é voluntária e não temos recursos”, explica Garrossini. Ela e seus alunos fazem parte de uma rede internacional de pesquisa sobre Tecnopolítica — que estuda como os grupos e movimentos sociais se organizam e como suas redes se formam — formada por universidades da Espanha, Chile, Portugal, Holanda e Itália.

Em nota, o CNPq disse estar tentando reverter a situação em “esforço conjunto ao Ministério da Ciência e Tecnologia”. Entre as medidas estão a “suspensão temporária da implementação de novas bolsas para minimizar o impacto desse déficit orçamentário e que têm sido divulgadas amplamente em nossas redes”.

Leia os depoimentos completos dos pesquisadores neste link.