Pesquisadores se unem contra ataques à ciência no Brasil

Na última semana, por pelo menos cinco vezes o presidente Jair Bolsonaro (PSL) questionou dados científicos produzidos por um instituto de pesquisa federal.  “Tenho a convicção que os dados são mentirosos”d+ “poderiam não estar condizentes com a verdade”d+ “prejudicam e atrapalham o País”d+ “esses dados servem para quê?” foram algumas das frases usadas por Bolsonaro para desmerecer as informações fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o desmatamento da Amazônia.

Neste domingo, ele disse ainda que na semana que vem haveria uma “surpresa” sobre os dados do Inpe, sem dar detalhes. Esta não foi a primeira vez que o conhecimento científico foi posto em xeque ou ignorado pelo governo. Do aquecimento global à definição de espécies ameaçadas de extinção ou ao tamanho e a importância das áreas de fato preservadas no País, informações relacionadas ao meio ambiente estão entre as mais questionadas pela gestão Bolsonaro.

Para se posicionar diante desse cenário, um grupo de mais de 50 pesquisadores de todas as regiões do Brasil começou a se organizar para oferecer respostas baseadas no melhor do conhecimento científico de um modo acessível à população. Dessa articulação surgiu a Coalizão Ciência e Sociedade.

Apartidário, o grupo é formado por pesquisadores de relevante atuação científica, com disponibilidade de tempo para contribuir no diálogo entre conhecimento científico e as demandas da sociedade.

“Nosso objetivo é ser um antídoto para as fake news. Um contraponto para trazer uma visão independente, robusta e sempre pautada no conhecimento científico”, explica o biólogo Alexander Turra, do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP).

A atuação inicial do grupo foi em produzir artigos para serem publicados na imprensa ou em revistas renomadas de divulgação científica, como a Science, além de cartas endereçadas ao próprio presidente e aos seus ministros. Os cientistas também têm trabalhado em conjunto para planejar suas participações em audiências públicas no Congresso, como ocorreu recentemente num debate sobre licenciamento ambiental, e planejam produzir eventos específicos sobre temas que estejam mais em evidência.

Por exemplo, a Comissão de Relações Exteriores do Senado decidiu realizar um seminário com cientistas que negam que atividades humanas sejam as responsáveis pelo aquecimento global – uma minoria dentro da comunidade científica. É consenso mundial que a elevação da temperatura média do planeta e outras mudanças climáticas que vêm sendo observadas têm como principal motivo as elevadas emissões de gases de efeito estufa geradas por ações humanas.

O Brasil tem diversos pesquisadores membros do principal corpo científico internacional que analisa estudos sobre aquecimento global, o IPCC. Mas nenhum foi convidado para participar do evento. “Então pensando em formas de criar um contraponto a isso, talvez fazer um encontro no mesmo horário”, afirma Turra.

A Coalizão também está se articulando com as duas principais entidades científicas do País, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) para promover ações conjuntas e com mais abrangência dentro da academia nacional.

 
Leia Mais: Estadão