Ministro da Educação diz que Bolsonaro ‘não leu e não lerá’ prova do Enem 2019

Weintraub afirma ter dado orientações para retirar qualquer “viés ideológico” e que “cabeças vão rodar” se o pedido não for atendido

Embora Bolsonaro tenha dito durante a campanha eleitoral que pretendia “tomar conhecimento” das questões do Enem a fim de privilegiar as “questões realmente voltadas ao que interessa”, o Ministro da Educação afirmou que ele não terá acesso à prova. Para Abraham Weintraub, não há razão para que o presidente tenha acesso ao exame,  enviado para gráfica em São Paulo na última sexta-feira (28). 

Entre as estratégias do Ministério da Educação para garantir equidade na avaliação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão o sigilo e a segurança. Para intervir no exame, portanto, seria necessário que Bolsonaro alterasse as regras atuais. Hoje, apenas parte da equipe do Inep e da gráfica contratada podem ter acesso à prova, e em ambientes restritos. Sendo assim, nem o Ministro da Educação tem acesso às questões. Segundo a Lei do Processo Administrativo da União, que versa sobre a competência na administração pública, tal competência “é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída”. Ou seja, a responsabilidade do Enem cabe ao Inep, ligado ao MEC, não ao presidente da República, que não é uma autoridade educacional. 

Ano passado, já eleito presidente, Bolsonaro, incomodado com uma questão que mencionava um dialeto usado pela comunidade LGBT no Enem 2018, afirmou que interferiria no exame para retirar temas que ele considera inadequados. Na ocasião, prometeu que não iria haver “questão desta forma ano que vem, porque nós vamos tomar conhecimento da prova antes”.

Mesmo não havendo intervenção direta na versão final da prova do Enem, Weintraub diz ter dado orientações para retirar qualquer “viés ideológico” e que “cabeças vão rodar” se o pedido não for atendido.  Ao falar do contexto do Enem, também disse ter demitido um colaborador, sem dar detalhes. Segundo o ministro, “as pessoas que não performarem adequadamente, a gente vai desligar. Não tem muita novidade”, disse. 

Enem será 100% digital até 2026

O Ministério da Educação  também anunciou que em 2020 vai aplicar o Exame Nacional do Ensino Médio digitalmente para 50 mil candidatos, em 15 capitais do país. Os planos são de que em 2026 já não haja mais a prova impressa. 

“A ideia é fazer vários Enems ao longo do ano por agendamento”, anunciou o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, em coletiva de imprensa.

O governo cita como argumento central para a mudança na prova a economia de dinheiro, já que, segundo dados oficiais, a aplicação da prova impressa supera R$ 500 milhões de reais. Outra justificativa é que a mudança traria ganhos para o meio ambiente.

Em entrevista ao Globo, o coordenador de vestibular do colégio Q.I, Renato Pellizzari, considerou irreal a proposta do governo de fazer a prova totalmente nesse modelo até 2026:

“Não sei se vamos conseguir em pouco tempo a inclusão digital de toda população brasileira que tem interesse de ingressar em uma universidade. É arriscado fazer uma previsão como essa para 2026”, diz. “Se paralelamente fosse uma pauta do governo desenvolver um processo de inclusão digital no brasil, levando internet e capacitação para todas as escolas públicas, com infraestrutura de computadores, talvez essa meta pudesse ser alcançada. Mas isso não está dentro das propostas do governo”, conclui.

Leia mais em: O Globo, Folha de SP

M.B/L.L.